Therry Klotzel – Viajar tem outros roteiros, além do turístico. É rota para sua auto-confiança, lidando com situações e emoções inesperadas, novos amigos e, porque não, romance. Assim foi minha viagem à Antártida.

Costumo dizer que fui amamentada primeiro com gasolina e depois com querosene. Pois ainda peguei a época dos motores a pistões e depois as turbinas.  A vontade de voar começou com “incursões” pela janela vestidas com capa de super-homem. Sofri alguns acidentes que não chegaram a quebrar minhas asas.

Mais tarde parti para projetos mais consistentes – mantendo pés no chão e cabeça nas alturas. Considerei o fator idade, condicionamento físico e distâncias. Ou seja: procurei roteiros distantes do local de origem e que poderiam oferecer dificuldades de exploração.

De Minas parti para a Grécia; um mundo de sobe e desce em caminhos arqueológicos. Explorei a ilha mais afastada de qualquer continente, cheia de enigmas e aventuras – a Ilha de Páscoa.

Os países mais próximos e mais equipados ficaram para uma segunda etapa de vida. E assim cheguei à marca de 50 países visitados e alguns retornos.

Tenho especial fascínio por paisagens isoladas, como geleiras e deserto. Meu primeiro contato com esse tipo de ambiente foi na Antártida – uma vastidão de  branco gelado, sem som industrial, salto alto e aglomeração.

Nessa calmaria, escutar sua minha voz interior, dialogar com minhas verdades foi inevitável. Mas também acabei descobrindo as delícias de me aventurar no gelo sem entrar em fria.

As condições da minha experiência na Antártida não podem ser repetidas hoje, pois se tratava de um charter especial, organizado com  a Força Aérea Chilena e governo, mas desde março de 1984, operadoras oferecem tours para o continente gelado, com emoções semelhantes.

Viagem à Antártida: a experiência

Éramos umas 50 pessoas vindas de diversas cidades dos Estados Unidos, do Chile e de São Paulo. Representando os pioneiros do gelo do Brasil, além de mim, Paulo Leite Mascarenhas, engenheiro; Manoel Ares Justo, advogado e Genésio Pereira filho, jornalista e advogado.

No Hotel Cabo del Hornos, em Punta Arenas, capital do estado de Magalhães e Antártida Chilena, fomos apresentados aos demais integrantes do grupo e ouvimos palestras preparatórias à nossa excursão, com apoio de nossa anfitriã. No dia seguinte, embarcamos num Lockheed C-130 Hércules, da Força Aérea Chilena, em voo de duas horas e meia até a Base Aérea Antártida, do Chile.

Nossa hospedagem aconteceu nos confortáveis containers da base, pensão completa, e nem poderia ser de outra forma. Refeições de primeira – com predominância para os frutos do mar, inclusive a legendária centolla e vinho chileno à vontade.

A base polonesa, a flor, e “o grande fora”

Foram quatro dias visitando o centro meteorológico, a Villa das Estrellas – a minicidade dos chilenos; a base russa, com um pequeno e moderno hospital (tinha até acupuntura elétrica) sala de lazer, muita música, vodka, alegria, sem nenhuma fronteira político-ideológica.

Outra surpresa aconteceu na base polonesa Artowski (foto à direita), onde vimos o que pode fazer o conhecimento e a dedicação do homem em relação à natureza. Em uma estufa foram plantadas as mais belas flores, e ainda tomates e pepinos. Guardo a flor que ganhei entre as páginas de um livro… e muitas lembranças, inclusive o grande “fora”.

Em um passeio, no final da tarde, quis  “quebrar o gelo”, dizendo uma frase de efeito: “Nunca pensei que poderia olhar em direção ao fim do mundo”. Resposta: ” Desculpa, mas a senhora  está olhando em direção à América do Sul”. Quebrei a cara…

Como uma exploradora

Loucura mesmo foi caminhar pelo continente gelado, entre blocos de gelo azulado – a cor vem do fato de o gelo ter sido formado sob grande pressão no fundo de uma geleira, o que extingue as bolhas de ar, fazendo sua massa adquirir a coloração característica, devido à absorção da luz.

Visitar as pinguineiras, observar as focas, os leões marinhos, ninhos de aves, e passar as noites sob um céu decorado com a Via Láctea sem nenhum obstáculo entre mim e estas maravilhas naturais não teve preço nessa viagem à Antártida.

A Antártida é um destino de aventuras em todos os sentidos. Mais do que turista, você se sente como uma exploradora, membro de uma expedição. Você também pode embarcar nessa.

Viagem à Antártida: como ir

Pinguins e iiceberg podem ser vistos em viagem à Antártica

Para contemplar essa maravilha há várias opções de operadoras oferecendo pacotes (Freepik)

Ir à Antártida é uma experiência bem mais difundida hoje. Cerca de 30 operadoras de 10 países estão no mercado, atuando no continente com navios de turismo, entre os meses de novembro e março, em zonas livres de gelo que facilitam a navegação e permitindo incursões nas regiões costeiras.

Pode acontecer algumas alterações no programa de viagem à Antártida, afinal o ambiente antártico é de extremos – clima variável e frio. Mesmo no verão as temperaturas mais altas estão entre 5 e 13ºC.

A programação inclui visita às estações científicas, passeios por campos de gelo, colônias de animais, atividades de alpinismo e mergulho, sempre supervisionadas pela tripulação.

Nos roteiros de viagem à Antártida estão disponíveis 120 sítios, incluindo 20 estações científicas. O que você vai visitar depende do programa da operadora. A  maioria sai dos portos de Ushuaia, Tierra del Fuego, na Argentina e Punta Arenas, no Chile.

Quem leva

Antes de mais nada você deve pesquisar online e consultar seu agente de viagem. Não são todas as agências que trabalham com o produto Antártida. Como sugestão: Antarctica Expeditions; TGK Turismo; Adventure Club;Venturas.

Já a aventura com a White Desert, bem mais cara, podendo custar por volta de R$ 34 mil a R$ 251 mil, por avião, parte do Aeroporto Internacional da Cidade do Cabo, na África, rumo à “Terra da Rainha Maud”, na Antártida Norueguesa, em voo de 5h30. Após chegar é preciso cobrir um trecho de 7 quilômetros, em moto de neve ou veículo 4×4 até o hotel, no acampamento “Whichaway”. 

Como é o clima

O verão vai de outubro a março e o inverno de abril a setembro. Não há diferenças marcantes para definir a primavera e o outono. Por isso convencionou-se que existem somente duas estações na Antártida.

O que colocar na mala

Certifique-se de perguntar para a companhia de viagem quais são os itens sugeridos e também o que ela fornecerá.

De maneira geral, leve: calça, moletom, calça e camiseta de manga comprida térmicas, jaqueta e calça impermeável, gorros, luvas, meias, bota de neve, galochas, óculos escuros, cachecol, medicações de uso permanente, livros, câmera e baterias.

Verifique se sua máquina aguenta as temperaturas extremas da Antártica. Lembre-se que no frio as baterias descarregam com muita facilidade.

A autora

Therry Klotzel, 70 anos, vive viajando por aí como jornalista de viagens (escreve no Brasilturis e Melhor Viagem) e como atriz, para gravar Os Velhinhos se Divertem, quadro que vai ao ar todos os domingos, às 22h30, no Programa Sílvio Santos, no SBT. É também modelo comercial.