Patricia Lamounier – Vai sair no Boi? Por que não foi no Boi da Manta ontem? Onde você ficou no Boi? Estas são algumas das perguntas mais frequentes durante o mês (ou mês e meio) que antecede o carnaval na cidade de Pedro Leopoldo, MG. Na verdade, o evento do Boi da Manta começa no aniversário de Pedro Leopoldo (27 de janeiro). O Boi, por tradição, sempre sai ás quartas e sábados e termina impreterivelmente na sexta-feira de carnaval com a “morte e enterro” do mesmo!
Amo carnaval e amo o Boi da Manta. Quando criança, só assistia. Já adolescente, saia com os amigos. Depois, passei a levar meus primos, sobrinhos e afilhada. Hoje são eles que me levam. O mesmo acontece com todos os habitantes de Pedro Leopoldo que amam carnaval. Geração após geração tem o costume sair no Boi! É uma farra só!
O Boi da Manta é a tradição pré-carnavalesca mais antiga e importante da cidade. O evento se estende aos municípios vizinhos. Afinal, o Boi é conhecido regionalmente!
Nos últimos anos, Pedro Leopoldo não teve carnaval de rua. Então, a tradição do Boi da Manta assumiu a posição.
De essência plural e diversificada, a festa é e sempre foi animadiiiiiissima! E atrai muiiiiita gente!
AFINAL, O QUE É O BOI DA MANTA?
O Boi da Manta é um festejo pré-carnavalesco onde uma comitiva de pessoas fantasiadas escoltam personagens vestidos em alegorias de boi. Só para constar, a estrutura é de metal ou madeira, acoplada a uma cabeça de boi empalhada!
O Boi sai pelas ruas na companhia dos foliões, da fanfarra e dos tradicionais bonecões que homenageiam pessoas famosas da cidade! A folia e o desfile Boi da Manta também acontece nas comunidades de Fidalgo, Quinta do Sumidouro, Lagoa de Santo Antônio, Vera Cruz, Santo Antônio da Barra e Dr. Lund. Para saber horários e dias acesse o site: Prefeitura Municipal de Pedro Leopoldo
No centro de Pedro Leopoldo, o trajeto é sempre o mesmo. A concentração acontece na Praça Dr. Senra, uma das principais praças da cidade. O cortejo desce a Rua Comendador Antônio Alves até a Praça Tancredo Neves, perto da Igreja São Sebastião. Ali tem uma parada técnica de 30 minutos para descanso dos músicos e dos foliões! Tempo suficiente para girar e encontrar os amigos. Depois, caminho de volta!
A história do Boi da Manta começou no início do século 20 e se mistura com os costumes urbanos e rurais da cidade de Pedro Leopoldo. É uma festa que virou tradição e espalhou suas cores, música e alegria pela cidade! Este ano o Boi da Manta comemora 100 anos!
A HISTÓRIA DO BOI DA MANTA
Tudo começou em 1919, com o Sr. Alagaris, natural do Rio de Janeiro e armazenista da E.F.Central do Brasil. Ele foi o carnavalesco que deu início ao festejo do Boi. Na verdade, não era um boi e sim, um burrinho! Já naquele tempo, o burrinho era confeccionado em chita, enfeitado com estrelinhas e muito colorido.
Em meados de 30, o Sr. Emílio Costa, ferreiro, assume a festa porém incorpora a figura do boi! Em 40, Totó e Cacaio, filhos de Emílio juntamente com José Pires Xavier Sobrinho e Mundico Félix, operários da tecelagem, realizam a festa do boi no pátio da fábrica. O intuito era levar diversão aos empregados da tecelagem e seus familiares. Foi neste período que começou a delinear o que hoje é o Boi da Manta!
A festa do Boi acontecia sempre nas folgas dos turnos de trabalho, ou seja, aos domingos! A medida que a fábrica foi incrementando a produção, a demanda por mais turnos aumentou. Então, surgiu a tradição da saída do Boi às quartas-feira! O trajeto era relativamente singelo. Saia da fábrica até a Praça Dr. Senra e retornava. A banda de música foi incorporada ao circuito.
Festa que nasce com o povo e vive para o povo!
Na década de 50, o Boi sai da fábrica e vem para o centro da cidade. Nesta época, o Sr. José Pires começou a contar com a ajuda de seus 2 filhos – Calango e Zé Pires Filho para armação dos bois e bonecos. A fábrica de tecidos deixa de patrocinar o Boi e a Prefeitura e os lojistas assumem o benemérito.
Por volta de 1970, Calango e Zé Pires Filho abraçam definitivamente a organização do Boi da Manta. Isto vai até início dos anos 90. Em 1994, Calango falece. Zé Pires Filho continua na coordenação e seus filhos passam a integrar a gestão do boi.
Em 2005, os irmãos Márcio Rogério e Marcelo (Deiô), a convite do prefeito assumem a logística da festa!
Apesar da organização tentar manter as tradições (trajeto, dias, enterro, música, etc.), a cidade cresceu e mudou. Por causa desta mudança, a estrutura também modificou. Os bois e bonecos ficaram mais elaborados, a banda incorporou mais músicos e o repertório foi adaptado. O evento passou a requerer outros serviços: mais ambulâncias, aumento do número de banheiros químicos e mais policiamento e segurança nas ruas!
O Boi da Manta é uma tradição especial e única. Só quem mora em Pedro Leopoldo ou conhece bem a cidade e as pessoas que ali habitam, sabe que o Boi é união, é festa, é família e é envolvimento. A cidade participa do Boi através de suas gerações!
A FANFARRA DO BOI
A “Fanfarra do Boi” de Pedro Leopoldo, coordenada pelo Cesar, congrega músicos de diversas bandas da região. São elas: Banda de Música Cachoeira Grande, Banda de Música de Fidalgo, Banda de Vera Cruz e Banda de Santo Antônio da Barra. A maior parte desses músicos participam ativamente das tradições das Folias de Reis e Congados.
A Fanfarra, com seus tambores, tamborins, trombones, bumbos, pistons e xiquexiques, mistura em seu repertório marchinhas de carnaval e músicas da atualidade. O mais divertido é que a banda observa os pontos “estratégicos” do percurso. Em frente à casa de Chiquita Carvalho, saudosa cidadã de Pedro Leopoldo, a música tocada é “Chiquita Bacana”.
Por respeito, a fanfarra pára de tocar durante a sua passagem pela Matriz de Nossa Senhora Imaculada Conceição. Mas, a primeira música a ser tocada após este intervalo é a música da banda Asa de Águia “Xô Satanás”! Um momento hilário, onde todos erguem os braços e cantam uníssono:
“Eu era um bêbado, Que vivia drogado, Hoje estou curado, Encontrei Jesus! Encontrei Jesus! Encontrei Jesus! Na casa do Senhor não existe satanás! Xô Satanás! Xô Satanás!”
O Boi da Manta sempre foi muito irreverente!
DEPOIS DO BOI DA MANTA
Pois é! Quando o evento acaba e estão todos exaustos, suados e com parte das fantasias despencando, nada mais resta a fazer senão reunir com os amigos e parentes para comer ou beber algo. Sair no Boi pulando e dançando pede algo de sustança depois. Afinal, é tradição! (risos!)
Para os adeptos do cachorro quente tem a barraca da Tia Cal na Praça Tancredo Neves. Não deixe para comprar na última hora. O cachorro quente é tão gostoso que normalmente acaba antes do final de qualquer Boi! Ah, as filas são intermináveis, mas vale a pena!
O mexidão, o tropeiro ou o macarrão na chapa vendido em frente ao Restaurante do Rogério, é para comer de joelhos!
O que não falta são barracas para cerveja, refri ou água! Agora, se quiser um coquetel mirabolante e delicioso procure pela barraca da Nem! É uma das barracas mais estruturadas do evento e normalmente fica no sinal do cruzamento da principal com Dr. Herbster.
A CIDADE DE PEDRO LEOPOLDO
Por incrível que pareça, um dos os registros mais antigos sobre a ocupação humana na América Latina é o fóssil de Luzia. Com cerca de 12.500 a 13.000 anos, ele foi encontrado nas escavações da Lapa Vermelha IV, em Pedro Leopoldo (quase divisa com Confins). Em 2018, o fóssil estava no Museu Nacional na ocasião do incêndio. A região é famosa por suas grutas e pinturas rupestres em forma de linha. Isto sugere que os povos que habitavam o local possuíam um sistema de anotações rudimentar!
Em meados do século 18, já era possível encontrar pequenas fazendas de gado na região! Mas, o aparecimento do município pedroleopoldesense só aconteceu mesmo no final do século 19. Foi quando o Sr. Antônio Alves Ferreira da Silva comprou a fazenda “3 Moças” e instalou ali uma fábrica têxtil. A fábrica se tornou a atividade econômica mais importante da cidade por muitos anos, junto com a atividade agropecuária!
E como toda atividade financeira congrega pessoas, casas ao redor da fábrica começaram a ser construídas para abrigar os funcionários. Em 1875, começou a construção do primeiro trecho da E.F. Central do Brasil, no estado de Minas Gerais. Em 1895, o ramo férreo chegou a Pedro Leopoldo. A ferrovia foi construída para escoar a produção agrícola destinada à exportação e abastecimento interno!
Em 1918, a Fazenda Modelo, foi instalada pelo Governo Federal, como incentivo à atividade agropecuária.
Em 1924, Pedro Leopoldo que era freguesia de Matozinhos, distrito de Santa Luzia, foi reconhecida como cidade.
Pedro Leopoldo tem aproximadamente 64 mil habitantes. Está localizada a 46km de Belo Horizonte e seu acesso é pela MG-010 ou MG-424.
A FERROVIA E A ESTAÇÃO
Em 1895, a estação ferroviária da cidade foi concluída. Na época, Pedro Leopoldo era conhecida como “Parada da Cachoeira”. Por isto, a estação recebeu o nome de “Cachoeira Grande” ou “Cachoeira das 3 Moças”, e eventualmente veio a se tornar uma importante parada da E.F. Central do Brasil. No início do século 20, grande parte da população de Pedro Leopoldo trabalhava na fábrica de tecidos ou na estrada de ferro.
Em 1894, o Dr. Pedro Leopoldo da Silveira falece precocemente em Sabará de “congestão cerebral”. Foi ele quem planejou o trecho férreo que abrange e corta a cidade! Em 1901, a estação foi renomeada em sua homenagem passando a se chamar “Estação Pedro Leopoldo”. Consequentemente, a cidade também incorporou o nome! Em 1964, quando a cidade completou 40 anos de emancipação política, seus restos mortais foram trasladados de Sabará para o Cemitério de Pedro Leopoldo.
Hoje na “Estação Pedro Leopoldo” funciona um Centro de Cultura. Em breve, o espaço será transformado num Centro de Referência à Memória de Pesquisa de Pedro Leopoldo, com a exposição do arquivo de Geraldo Leão e Centro de Atendimento ao Turista.
DIVERSIFICAÇÃO DA ECONOMIA
O calcário se tornou uma enorme fonte de recurso para economia da cidade a partir da década de 50. Indústrias como a Cauê, Ciminas, Camargo Corrêa e Holcim estão entre as principais indústrias que impulsionaram o desenvolvimento da cidade. Consta nos boletins da RFFSA de 1985, que a estação ferroviária embarcava mensalmente cerca de 27 mil toneladas de cimento ensacado e a granel.
A Mineração Lapa Vermelha, empresa regional, destacou-se na mineração como produtora de brita para construção civil e cal virgem e calcário para a siderurgia.
Em 1985, no setor de biotecnologia, nasce o Cenatte Embriões. Pioneiro na América Latina com estudos em bovinos, o Cenatte é uma das maiores empresas do mundo no setor de transferência de embriões – indo desde a coleta, transferência de embriões, congelamento, aspiração folicular e fertilização em vitro. Foi a primeira empresa mineira a produzir clones bovinos!
Muitas das antigas e tradicionais fazendas ao redor de Pedro Leopoldo, não abandonaram a atividade agropecuária. Entretanto, começaram a utilizar o turismo rural como fonte de renda!
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