Marlyana Tavares – Visitar o Museu Imperial (foto acima) foi a prioridade para um pit stop de 2 dias em Petrópolis (RJ). O destino final de uma viagem de carro para Arraial do Cabo, litoral fluminense, em novembro do ano passado.
Chegamos em um domingo, na hora do almoço, e fomos direto para o museu, sonho de minha companheira de jornada, Ana Elizabeth Diniz.
Ficamos também na segunda-feira, quando rodamos a cidade e, na terça-feira, rumamos para a praia, seguindo pela velha estrada usada por onde Dom Pedro II para ir ao Rio de Janeiro.
Foi um roteiro e tanto: mergulhamos na segunda e última parte da história imperial brasileira e, do alto de nossos 50 anos e tais, aprendemos coisas para as quais nem ligamos em excursões juvenis de escolas.
Neste post, vou contar como foram nossos 2 dias em Petrópolis e sugerir uma programação para quem pode ficar mais tempo.
O 1º dos nossos 2 dias em Petrópolis
Petrópolis nasceu em torno do palácio de verão de Dom Pedro II, hoje transformado em Museu Imperial. Visitá-lo é o ápice da estada na cidade serrana.
Ali está reunido o maior acervo do país relativo ao segundo império brasileiro,(de 1840 a 1889). É bem grande a quantidade de mobiliário, quadros retratando o Brasil do século 18, objetos usados pela família imperial, principalmente a de Dom Pedro II.
E olha que bizarra coincidência. Alguns dos móveis que estão hoje em Petrópolis, incluindo o trono imperial que figura na Sala do Estado, integraram o mobiliário do Palácio Imperial da Quinta da Boa Vista, que acabou por abrigar o Museu Nacional, destruído pelo incêndio do dia 2/09/2018.
Móveis da sala de música, a mesa da sala de jantar, parte do mobiliário que compõe a Sala dos Diplomatas e a cama do quarto da Princesa Isabel também pertenceram ao Palácio da Quinta.
Como isso aconteceu? Quando foi instaurada a República e a família de Dom Pedro II expulsa do Brasil, tudo que pertencia à família real foi leiloado, explica a museóloga do Museu Imperial de Petrópolis, Muna Raquel Durans. Depois, com a criação do museu, muita coisa foi recuperada e doada à instituição, conta ela.
O prédio onde está o museu foi colégio, educandário e só então transformado no que é hoje. Inaugurado em marco de 1943, o Museu Imperial contém 300 mil itens, entre conjuntos documentais, bibliográficos e objetos, graças a essas doações.
Como foi nossa visita ao Museu Imperial
A visita ao Museu Imperial pode ser feita em uma hora pelos mais apressados. Porém, eu e minha amiga queríamos saborear o palácio e seu interior sem pressa. Gastamos umas 3 horas.
Antes de iniciar o tour, é preciso deixar mochilas e máquinas fotográficas na administração. Fotos só são permitidas das partes externas.
Recebemos umas pantufas bem incômodas e escorregadias para colocar por cima dos sapatos. Tudo para não arranhar o piso de mármore de Carrara dos corredores e madeira de lei dos salões. Tudo bem, a gente entende!
Andar pelo térreo e o pavimento superior é fazer uma volta aos anos 1800. No primeiro pavimento, entre outros, passamos pela Sala da Princesa Isabel; Sala do 1º Reinado; Sala das Joias; Sala das Insígnias Majestáticas de d. Pedro I e Pedro II; Sala do Senado; Sala de Música; Sala de Piano da Imperatriz; Sala de Costura; Sala de Jantar e Sala dos Diplomatas.
O que mais me impressionou foram as joias usadas pela realeza, como a coroa de brilhantes e pérolas usadas por Dom Pedro II, o cetro com cabeça de dragão, em ouro e brilhantes, carregado por Dom Pedro I e a pena de rubis e ouro com que a presença Isabel assinou a abolição da escravatura.
O colar de Domitila, a amante de Dom Pedro I com 14 ametistas e o camafeu do monarca, em marfim, repousa ao lado das joias usadas pelas esposas oficiais, D. Leopoldina e D. Amelia.
Quem vem para jantar?
A mesa posta com cadeiras de palhinha e serviços de finíssimo cristal do tempo de Dom Pedro I e sua segunda esposa D. Amelia parece esperar eternamente os convidados.
A arca com espelho e laterais com entalhe e aparadores, todos com tampo de mármore de Carrara, assinados por F. Léger Jeanselme Père &Fils, são móveis que devem ter custado uma pequena fortuna na época.
Naqueles tempos, a cozinha era fora da casa. As comidas vinham em caixas de zinco, mantidas quentes por carvões em brasa.
Em saletas laterais, eram transferidas, certamente por mãos queimadas dos escravos, para as travessas que iam às mesas. Contas-se que, para cada membro da família, havia cerca de 20 escravos para cuidar.
No segundo pavimento, estão o Quarto da Princesa Leopoldina, a Sala de Estado; o quarto de dormir do casal real; o Gabinete de D. Pedro II; a Sala do Berço.
Na Sala do Gabinete há um telefone feito de madeira, metal, baquelite, porcelana,veludo e galão, o primeiro a funcionar no Brasil, instalado a mando de Dom Pedro II. Ele era um visionário, dado às artes, às ciências e às viagens.
Fantasmas?
Como sempre acontece quando vou a lugares muito antigos, pergunto a quem convive com a energia do recinto sobre histórias de fantasmas. Um dos vigias me conta que sim, escutam passos à noite, uma porta que se fecha e outra que se abre, uma mulher de branco que anda pelos jardins…
“Tem gente (funcionários) que não entra lá à noite de jeito nenhum”, me confidenciou. E acrescentou detalhe macabro: “À época não existia cemitério. Enterravam-se pessoas de forma pouco usual para os dias de hoje”. Mais, não quis declinar.
Pavilhão das Viaturas
O Pavilhão das Viaturas é onde ficava a senzala do palácio. Hoje o espaço abriga várias carruagens, das mais simples à Berlinda de Aparato, na qual andou Dom Pedro II no dia de sua sagração como imperador (18 de julho de 1841). Era usada em ocasiões especiais como o casamento das duas filhas de Dom Pedro II, d. Isabel e d. Leopoldina.
Devia ser impactante para o povo, tanto que a chamavam de monte de prata, por causa da quantidade do metal nela empregado. Também foi apelidada de carro cor de cana, devido à cor amarela.
A estrada usada por Dom Pedro II para chegar ao Rio de Janeiro, toda de pedras, está em operação, faz parte da Estrada Real. Nós a pegamos para cortar caminho e fugir de dois pedágios, no caminho para Arraial do Cabo, como nos foi recomendado por nosso guia. Foi muito interessante.
O Museu Imperial guarda também a locomotiva Leopoldina, que fazia o trajeto Rio de Janeiro-Juiz de Fora pela Estrada de Ferro Mauá.
Para comer
Duetto´s Café – Como somos de tomar café, eu e minha amiga paramos no Duetto´s Café, na parte de fora do Museu e degustamos uma das deliciosas tortas.
Como ir
Museu Imperial – Rua da Imperatriz, 220 (Centro). Funciona 3ª/dom, 11h/17h30. Entrada R$ 10. Meia : R$ 5 (estudantes, professores e maiores de 60). Gratuito para menores de 7, maiores de 80 e portadores de deficiência. Jardins: 3ª /dom,8h/18h, entrada grátis.
Segundo dia
Visita à Catedral de São Pedro de Alcântara
No segundo dia em Petrópolis, uma segunda-feira chuvosa, fomos visitar bem cedo a Catedral de São Pedro de São Pedro de Alcântara, outro ícone da cidade.
É onde estão os corpos de Dom Pedro II, dona Tereza Cristina, sua esposa, a princesa Isabel e seu marido, o Conde d’ Eu. Eles ficam no Mausoléu Imperial, sob esculturas em mármore, em tamanho natural.
Dizem que, por uma ilusão de ótica, parece que o peito de Dom Pedro II se mexe, como se ele estivesse respirando. Não consegui perceber.
A catedral de pedra tem torres pontudas em estilo neogótico francês e janelas em formato ogival. Cada folha da porta de madeira segundo relatos oficiais pesa 2.400 quilos.
A igreja é cheia de preciosidades: o coro, um dos maiores da América Latina, contêm 2.227 tubos, 33 registros e três teclados manuais.
Em seu interior, a gente se encanta com os belos vitrais que retratam imagens de santos, da Sagrada Família e de Cristo. Há uma imagem de São Pedro de Alcântara, de 2,80m, esculpida em mármore de Carrara.
É possível subir à torre, pagando uma taxa de R$ 8; estudantes de escolas privadas e idosos de 60 a 64 anos pagam meia entrada. É grátis para estudantes de instituições públicas de ensino e maiores de 65 anos.
A catedral fica bem perto do Museu Imperial, na Rua São Pedro de Alcântara, 60, Centro. Aberta todos os dias, das 8h às 18h. Tel (24) 2242-4300.
Casa da Princesa Isabel
Saindo da Catedral de São Pedro de Alcântara, circulamos pela Avenida Köeller, onde há vários palacetes em estilo eclético do século 19, o Palácio Rio Negro.
Bem próxima à Catedral, também nessa avenida, está a antiga Casa da Princesa Isabel, no número 42: não está aberta à visitação e nela hoje funciona uma imobiliária dos descendentes dos Braganças.
Julius Friedrich Köeller foi o engenheiro encarregado por Dom Pedro II, nos idos 1843, para comandar a equipe de profissionais que ergueria a cidade de Petrópolis, cidade que testemunharia as muitas vezes que o monarca e sua família passaria os verões ali, até ser “convidado” a sair do Brasil.
Igreja Luterana
Só abre aos domingos, das 9h/11h. Foi a primeira igreja da cidade, é de 1863. Todos os objetos ali encontrados são originais, como o relógio mecânico de contrapeso e os sinos de bronze que chamam os fiéis para as celebrações.
Os vitrais coloridos com cenas religiosas são marcantes. A igreja guarda ainda um órgão alemão de 860 tubos. Avenida Ipiranga, 346.
Casa da Ipiranga ou Casa dos 7 Erros
A construção, em estilo vitoriano, é de 1884. A grande brincadeira é tentar descobrir as diferenças de um lado e de outro na fachada (tente descobrir você também). O que o povo apelidou de erros, na verdade, foi feito de forma proposital, por José Tavares Guerra, afilhado do Barão de Mauá.
Segundo nosso guia, nessa casa foram filmadas as novelas Direito de Amar, com Glória Pires e Lauro Corona e Era uma Vez e Esplendor. Ela é uma das poucas de Petrópolis que mantém as características originais: lustres franceses, lareiras de mármore Carrara, espelhos de cristal belga.
Teria sido uma delícia visitá-la, mas estava fechada. A casa pode ser percorrida, mediante pagamento de taxa. Ficará com certeza para a próxima vez.
Atrás do imóvel funciona um ateliê de arte. Onde havia uma cocheira, foi instalado o Restaurante Bordeaux Vinhos &Cia.
No terreno existe uma araucária com mais de 300 anos. Há uma intensa programação cultural. Vale fazer contato anterior e se informar sobre a programação cultural na casa. Av. Ipiranga, 716. Tel: (24) 2231-8718
Palácio de Cristal
O presente do Conde d’Eu à sua amanda Princesa Isabel, dado em 1884, foi muito bem aproveitado.
A princesa promoveu ali muitos bailes, exposições de pássaros, vocação que segue até hoje. A construção, toda de ferro e vidro, é inspirada no Palácio de Cristal de Londres.
A estrutura pré-moldada foi trazida inteira da França. Em abril de 1888 houve uma grande festa no local, com a libertação dos últimos escravos. O palácio fica na Rua Alfredo Pachá, numa praça com vários bancos, um lugar muito agradável.
A visitação é de terça a domingo, das 9h às 18h e a entrada é franca.
Rua Teresa
Dali, rumamos para a Rua Teresa, famoso centro de compras. A rua é conhecida por suas malharias, jeans e acessórios a preços mais em conta. São 2 quilômetros onde estão localizadas mais de 1 mil lojas.
Apesar da quantidade, achamos pouca variação entre os modelos e foi preciso garimpar bastante para encontrar algo mais original, mas valeu.
Mirante de Nossa Senhora de Fátima
Saindo do Centro, pegando em direção ao bairro Valparaíso, fica a estátua de Nossa Senhora de Fátima.
O monumento de 7 metros de altura fica no alto de uma colina, envolvido por 7 colunas. Elas representam os dons do Espírito Santo: temor a Deus, piedade, ciência, fortaleza, conselho, inteligência e sabedoria.
Há também uma capelinha bem simples e bonitinha. A visitação é diária, das 8h às 18h.
Do mirante, dá para tirar fotos panorâmicas de Petrópolis. Fica na Rua Bispo Dom José, s/nº – acesso pela Rua Monsenhor Bacelar – Valparaíso
Orquidário Binot
O orquidário, fundado por Jean Baptiste Binot, o idealizador dos jardins do Palácio Imperial, fica fora do Centro. Tem centenas de espécies de orquídeas.
Senti falta de um melhor atendimento, apesar de o lugar estar vazio de clientes. Mas as plantas são lindas. Ficamos encantadas com as orquídeas aéreas.
É difícil pensar em não levar uma ou várias daquelas preciosidades para casa, mas estávamos a caminho da praia…
Fica na Rua Fernandes Vieira, 390, Retiro. Funciona de 2ª a sábado, das 7 às 17h. Telefone: (24) 2248-5665
Como fazer os passeios em Petrópolis
Petrópolis é uma cidade com ruas estreitas, o que dificulta a circulação de veículos. O melhor mesmo, pelo menos no Centro Histórico, é caminhar. Dá para conhecer tudo a pé, incluindo o Museu Imperial, a Catedral de São Pedro de Alcântara, o casario e os palacetes dos séculos 19 e início do século 20 das ruas Köeller, Imperatriz, Ipiranga, Imperador.
Andar pelas ruas e alamedas arborizadas e tendo rios ao centro é bem gostoso. As casas históricas têm placas na frente com uma descrição histórica.
Essas placas tem QR Codes que levam ao Aplicativo Petrópolis, desenvolvido para Android e IOS, o que enriquece ainda mais o passeio. Baixe o aplicativo antes da viagem e navegue na história da cidade imperial enquanto caminha pelas ruas.
City tour
É difícil achar vaga de estacionamento nas ruas do Centro e na Rua Teresa e é preciso comprar cartão para estacionar. Para ir ao Mirante da Nossa Senhora de Fátima e ao Orquidário Binot é necessário pegar carro.
Como estávamos em um período chuvoso e não queríamos andar de carro, optamos por contratar um guia para um city tour de mais ou menos umas duas horas. Ele estava na porta da catedral e nos ofereceu o passeio, por R$ 70. Achamos bom e fomos com outras duas turistas.
Outra opção é experimentar um programa bucólico é contratar um passeio de charrete, as chamadas “vitórias” pelo Centro histórico.
Os condutores ficam na rua do museu com suas charretes, réplicas das que eram usadas na época, em estilo vitoriano. Oferecem tours de 30 e 50 minutos pelas alamedas, com ou sem paradas em alguns pontos turísticos.
Lamentamos não ter dado para visitar a Casa Encantada onde morou Santos Dumont, mas passamos pela Praça do 14 Bis, onde fica a réplica do avião criado pelo pai da aviação.
Também ficou para uma próxima vez tomar um chope em uma das cervejarias da cidade. Afinal, a primeira indústria cervejeira do Brasil, a Bohemia, nasceu em Petrópolis em 1853.
Gostaria de ter visitado o Museu da Cerveja e o centro de experiências e feito a degustação de cervejas especiais fabricadas no local.
Mas é sempre bom deixar motivos para voltar e, no caso de Petrópolis, deixei vários. Em minha próxima ida ao litoral fluminense farei novo pit stop por lá, porém desta vez, sem ser na segunda-feira.
Onde ficar em Petrópolis
Para somente dois dias, como a experiência aqui relatada, sugiro se hospedar em Petrópolis mesmo.
Isso porque existem muitos meios de hospedagem nas proximidades da cidade.
Optamos por ficar o mais perto possível das atrações históricas, por isso escolhemos o Casablanca Imperial, na Rua da Imperatriz, 286, a poucos passos do Museu Imperial.
São dois belos casarões históricos, considerados Patrimônio Histórico. Ficamos em um apartamento do casarão do fundo. Desfrutamos de duas excelentes noites e ótimos cafés da manhã, com pãezinhos feitos in loco, iogurtes naturais, e mimos culinários que te deixam pronto para enfrentar bem o dia.
Achamos bom o custo-benefício. O hotel conta com um restaurante, o Casablanca Bistrô, de cozinha francesa, aberto ao público, mas na nossa estada estava fechado (domingo à noite e segunda).
Tentamos almoçar no restaurante do Solar do Império, na Avenida Köeller, 376, mas já tinha passado da hora.
O hotel é composto por dois casarões igualmente tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e é uma construção muito linda.
Itaipava e Araras
Se você tiver mais dias e intenção de explorar os arredores de Petrópolis, incorporando à sua viagem visitas aos distritos de Itaipava e Araras, pode ser interessante se hospedar nessas regiões. Há muitas pousadas, das mais simples às mais requintadas.
Para quem, como eu, mora em Belo Horizonte, Araras lembra Macacos, distrito de Nova Lima, bem pertinho da capital. É um local bem bucólico, com lojinhas de doces e artesanato, vários restaurantes e pousadas.
Itaipava também reúne várias pousadas e é um centro de compras interessante. A Estrada União Indústria reúne várias lojas, restaurantes e serviços.
A mais tradicional é a Cerâmica Luiz Salvador, você encontra peças utilitárias e decorativas aqueles pratos, vasos e jarras lindos em azul e branco, amarelo e branco, objeto de desejo de muita gente. Lembram aquelas louças portuguesas, mas é muito mais que isso.
Há também a Feirinha de Itaipava, onde quase 400 lojinhas vendem roupas e acessórios a preços camaradas. Às sextas nem todos os boxes funcionam. É um bom lugar para almoçar. Fica no BR-040 para o Rio de Janeiro,km 63 (trevo de acesso a Itaipava).
Links úteis
Fundação de Cultura de Petrópolis – Contém sugestões de roteiros, endereços de pontos de informações turísticos e dados históricos
Museu Imperial de Petrópolis – É um site primoroso, com todas as informações do museu, possibilidade de visitas fotográficas e tour em 360. Contém toda a programação cultural do museu
Destino Petrópolis – Site oficial de turismo da cidade
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