Patricia Lamounier – Eu estava em Hakone, na ilha principal do Japão. Já era final da tarde de um dia frio e chuvoso e optei por um banho quente antes do jantar. Não seria um banho qualquer. Na verdade, seria a primeira vez que entraria em uma casa de banho japonesa.

Não é qualquer mulher, principalmente ocidental que utiliza uma. Exige coragem. Exige abertura e disposição. Eu sempre gostei de experimentar coisas novas e vivenciar culturas diferentes. E estava realmente precisando reconhecer e testar os meus limites – novamente!

Patricia, no quarto em Hakone, vestida com o kimono

Patricia, no quarto em Hakone, vestida com o quimono (Fotos: Patricia Lamounier)

O ritual é completamente diferente de tudo que já conheci em matéria de banhos e afins. Não é permitido biquíni ou maiô. Tatuagens em geral não são bem recebidas pelos usuários do local.

Existe separação de homens e mulheres. As portas de entrada são diferenciadas por bandeiras azuis ou vermelhas. Não tem como errar! Ao chegar, já vestida como uma japonesa, deixei meu tamanquinho vermelho no espaço destinado a eles perto da entrada principal.

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Escaninho para deixar os quimonos

Procurei pelo escaninho aberto e pelo cesto de roupas disposto dentro dele. A sala estava aquecida. Mulheres iam e vinham… Tirei o quimono, a camiseta e as roupas de baixo. Da forma mais ordenada que consegui, coloquei tudo dentro do cesto. Desnudei-me completamente até mesmo do meu constrangimento.

Busquei pela toalhinha fina e compacta deixada para mim no quarto de dormir. Era tudo que portava comigo naquele momento. Minto: mantive os brincos e o prendedor de cabelos! E lá fui eu em direção à segunda porta. Ao abri-la busquei pela sequência de chuveirinhos, espelhos e banquinhos ao longo de uma das paredes. Posicionada no canto contrário havia uma grande piscina rasa. A sala estava bem mais quente do que a anterior.

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Frequentadores tomam banhos sentados em banquinhos, com chuveirinhos

Sentei-me no banquinho livre, frente ao espelho. A minúscula toalha continuava na mão. Na bancada estava disposto o xampu, o condicionador e o sabonete líquido. Sempre sentada e voltada para o espelho abri lentamente o chuveirinho e comecei a me molhar.

Primeiro os cabelos, os ombros, as costas, a barriga e as pernas. A água estava a 40 graus. Fechei o chuveirinho. Busquei pelo xampu e ensaboei meus cabelos. Estavam enormes e sem corte. Até tentei cortá-los antes de viajar, mas devido a uma série de pequenos incidentes não consegui fazê-lo. Foi da maneira que foi.

Terminado os cabelos, foi a vez da pequenina toalha absorver o sabonete líquido. O ensaboar de todo o corpo, inclusive das partes íntimas, tem de ser muito lento e detalhado, especialmente se estiver sentada em um pequeno banquinho.

Somente você saberá se está limpa ou não. Explico: não se deve levantar do banquinho. O tempo neste momento é todo seu: ele te permite demorar ou não. Depois do ritual de ensaboamento é hora de retirar o sabão. O chuveirinho entra em ação novamente!

Sala com piscina para banho japonês, pilastras e muito vapor, uma casa de banho japonesa

Área da piscina aquecida

A etiqueta diz que só é permitido entrar na piscina de imersão com o corpo devidamente limpo e sem sabão para não contaminá-la. Não se pode mergulhar. Só sentar e relaxar. Muitas mulheres ficam ali conversando baixinho ou olhando o vácuo. Pensando na vida e nas incógnitas da vida.

A água é mantida sempre muito quente e um entorpecimento começa a ser sentido depois de algum tempo. Aliás, um enorme conforto toma conta do corpo. Hora de deixar a piscina!!! A vermelhidão do corpo é visível. Senta-se novamente no pequeno banco e mais uma vez se lava, como se fosse o último banho de sua vida!!

Todo este ritual pode levar horas ou apenas minutos. Depende de você! Mas pode ser que num determinado instante, num lance único, você se veja refletida. Eu me vi completamente despida, desnuda.

Vi uma mulher velha, cansada e o que é pior: com medo da vida. Tão triste e tão infeliz! Percebe-se, numa realidade despojada de qualquer coisa, que o tempo está passando. Coisas importantes ainda estão para serem feitas. Sonhos e desejos ainda estão para serem realizados.

Cai a ficha de que não quero mais viver no medo. Ele paralisa! Minha vida é única e meu momento é agora! Quero energia, quero vida!

Decido então lutar pela vida e pela felicidade aonde quer que ela esteja. O medo existe, mas tá aí para ser superado. Se não for, ele te trava, te emperra e já não há espaço para tal! Sei que haverá muitos acertos e principalmente muitos erros. Mas isto faz parte da vida. Uma vida bem vivida!!!!

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Área para secar cabelos

Como você se sentiria num banho japonês? Já passou por alguma experiência deste tipo?

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