Maria Cláudia Orlando Magnani – Os olhares sobre Roma são quase infinitos. Afinal, Roma é eterna! Meu local predileto em Roma é o Pantheon. Não só porque é maravilhoso e abriga a tumba de Rafael, mestre da pintura e arquitetura, mas porque dali se vai a muitos locais que acho imperdíveis!
Fui por motivo de estudos. Mas chamo atenção para algumas coisas que podem ser deliciosas visitar em Roma, aonde todos os caminhos levam – independente da sua motivação!
Fiquei na cidade de Pisa, onde estive ligada à Scuola Normale Superiore. De lá, viajei para outros lugares mas sempre tendo em vista a pesquisa de imagens ou bibliográfica prevista no meu projeto de estudo.
Sou uma apaixonada pela Roma renascentista e medieval. Não negligencio a Roma antiga, mas a Roma cristã me toma de assalto. A partir do Pantheon. tracei um roteiro que me encanta por vivenciar esta paixão, além de outros atrativos, como cafés e restaurantes super charmosos!
O passo a passo a partir do Pantheon
A poucos minutos da Piazza della Rotonda, onde está localizado o Pantheon (entrada grátis, aberto todos os dias) vai-se à Piazza Navona, onde se encontra a Fonte dos Quatro Rios esculpida por Bernini. Ali está a Embaixada Brasileira, no Palácio Pampilli.
A Igreja de Sant’Agnese in Agone é uma jóia do barroco. Possui uma cúpula maravilhosa afrescada com a Glória do Paraíso por Ciro Ferri e Sebastiano Corbellini. Notam-se as virtudes cardeais pintadas por Baciccio nos tímpanos da cúpula e a glória de Santa Agnese, no teto da sacristia.
Em outro sentido, há nessa praça um sorvete de chocolate que seria um pecado não provar: um verdadeiro tartufo! Vá ao Ter Scalini Caffé, Ristorante & Gelateria. É caro e será mais caro ainda se você tomar o sorvete sentada. Mas, é daqueles sabores que você não vai encontrar em nenhum outro lugar!
Seguindo a Via de Santa Agnese que se torna Via di TorMillina, vire a segunda rua à sua direita e chegará à Via della Pace. Ali está a igreja de Santa Maria della Pace. Nessa igreja estão pintadas, na Capela Chigi, quatro sibilas de Rafael.
Entre o Pantheon e a Piazza Navona, passa-se pela igreja de San Luigi dei Francesi, onde estão três telas de Caravaggio: A Vocação de São Mateus, São Mateus e o Anjo, e o Martírio de São Mateus. Coloca-se uma moeda de um euro e a capela se ilumina por alguns minutos, mas o suficiente para se extasiar.
A poucos metros, está a Igreja de Santo Agostinho, quase esquecida pelo caminho. Quatro tesouros memoráveis se escondem ali: um profeta Isaías de Rafael; o altar-mor de Bernini, a Madonna Del Pellegrino ou Madonna di Loreto de Caravaggio e um Santo Agostinho de Guercino.
Se retornarmos ao Pantheon, há uma placa indicando a Fontana di Trevi. Se seguir por esse bequinho, no primeiro cruzamento, encontra-se a igreja de Santo Inácio. Não deixe de entrar e olhar a pintura barroca do teto. Obra do jesuíta Andrea Pozzo, grande especialista em ilusão de ótica e pintura de falsa arquitetura. Há um espelho no qual pode observar a pintura sem dores no pescoço.
Uma dica
Vale a pena se posicionar dentro do círculo amarelo no chão e observar a pintura, inclusive a cúpula mais à frente, que juramos que é verdadeira. Pois não é!!! Tudo aquilo é plano e a profundidade é falsa.
É bacana ir saindo do lugar e olhando o teto, seja se deslocando para os lados ou para frente e para trás e ver como a perspectiva pára de funcionar fora desse que é o ponto de fuga do olhar. As colunas começam a ficar tortas e a gente percebe que a cúpula é falsa. É a obra de ilusionismo das mais geniais.
Também se pode iluminar a cúpula colocando-se uma moeda no local apropriado à direita de quem entra, na nave central.
Entre sibilas e cafés
Se você não seguiu esse caminho, mas andou em frente, vai se deparar, à esquerda do Pantheon, com o elefante de Bernini em frente à Igreja de Santa Maria sopra Minerva. Nesta igreja existem quatro belíssimas sibilas de Filippino Lippi.
As sibilas são profetisas da mitologia greco-romana ligadas ao deus Apolo. O mito vem da Babilônia para a Grécia e Roma. Foram incorporadas ao cristianismo por Constantino no Concílio de Niceia em 325. Assim, elas passam a profetizar sobre o nascimento, vida, paixão, morte e ressurreição de Cristo além de anunciarem o Juízo Final.
Do lado contrário ao Pantheon, virando à direita, está o Café Sant’Eustachio. Um local muito tradicional, com sua antiga torrefação desde 40. O cardápio é variado e se pode degustar cafés do mundo inteiro.
Em frente ao café, à direita, está o fundo do prédio do arquivo municipal Palazzo della Sapienza. Contornando esse prédio, no Corso Del Rinascimento, está um pátio conhecido como Pátio di Giacomodella Porta, onde encontra-se a Igreja de Sant’Ivo Alla Sapienza.
Conselho: gaste um tempo admirando essa obra genial do barroco, feita por Francesco Borromini.
Caravaggio, Rafael e Da Vinci
De costas para o Pantheon está a Via del Pantheon, por onde se chega à Piazza della Maddalena e à Chiesa di Santa Maria Maddalena. Neste templo existe uma caixa de órgão barroca, de beleza extraordinária. Saindo dali, à direita, encontra-se o Café Giolitti, igualmente tradicional, onde os doces e sorvetes são deliciosos.
Na Piazza di Monte Citório está localizado o Palazzo Montecitorio, sede da câmara dos deputados. Vê-se o obelisco egípcio de Montecitorio, do século VI a.C., levado à Roma no ano 10 a.C.
Adiante, na Piazza Colonna está o Palazzo Chigi, sede atual da presidência do Conselho dos Ministros. No centro da praça, está a coluna Antonina ou de Marco Aurélio. Dizem que foi erigida por esse último e dedicada a Antonino Pio como celebração das vitórias na Armênia, Pérsia e Germânia.
Se ainda tem um tempinho, à Via del Corso está logo á frente. É uma longa avenida tendo em suas pontas a Piazza Del Popolo e a Piazza Venezia.
A igreja de Santa Maria Del Popolo, na Piazza Del Popolo, abriga a Capela Chigi, iniciada por Rafael (cúpula) e terminada por Bernini, que deixou ali fabulosas esculturas. Lá encontram-se duas pinturas importantíssimas de Caravaggio: a Crucificação de São Pedro e Conversão de São Paulo. No altar está a Assunção da Virgem de Annibale Carracci.
Notáveis, são as sibilas de Pinturicchio pintadas no teto do coro, atrás do altar. Essas não estão abertas à visitação. É possível vê-las mas deve-se pedir permissão ao zelador da igreja.
Museu Leonardo da Vinci
Próximo, está o Museu Leonardo da Vinci. É pequeno e com réplicas interativas das obras do Leonardo da Vinci cientista. Excelente para levar também as crianças. Este museu pode ser encontrado em Milão, em Florença e em Fiesole.
O monumento Vittorio Emanuele II, que os italianos detestam por ser uma agressão à paisagem, está na Piazza Venezia.
Na igreja de Santa Maria in Aracoeli, ali pertinho, encontra-se uma das primeiras pinturas de sibilas no mundo cristão, no século XIII. Foi destruída e pintada novamente no século XVI, representando a lenda da sibila Tiburtina e do Imperador Augusto.
Ao lado estão os Museus Capitolinos, um conjunto de palácios romanos onde se encontra uma vasta e importantíssima coleção de obras de arte. Esta praça onde estão os museus foi redesenhada por Michelangelo, no século XVI.
Maria Cláudia A. Orlando Magnani é professora de História da Arte e Filosofia do Curso de Turismo FIH/UFVJ. É casada com Fernando e tem duas filhas universitárias que já ganharam o mundo. É apaixonada por arte cristã e pela Itália. Pesquisa o tema das sibilas na arte cristã e em breve lançará o um livro sobre o assunto.
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