Marlyana Tavares – Não existe idade máxima para viajar. E elas viajam por vários motivos. Porque querem fugir da rotina. Porque vão encontrar um filho que está em outro país. Porque querem passear em família ou com as amigas. Porque, depois de casar, criar filhos, virar profissionais, etc, decidem experimentar como é estar sozinha num local estranho, desafiar novos limites. Porque estão a trabalho e resolvem (por que não?) esticar uns dias a lazer. Porque amam viajar, simples assim.

Seja qual for a razão, viajar está no calendário, nas prioridades, na programação. O De Saias Pelo Mundo ouviu 7 mulheres viajantes com idades acima de 50 anos para saber o que as incentiva a pegar a mala nessa fase da vida, para onde vão e porque. E ainda quais foram as viagens que mais as encantaram, que mais as deixaram de queixo caído.

Uma delas é a jornalista Ana Elizabeth Diniz, na foto acima, em Cinqueterre, na Itália. Suas histórias emocionantes, engraçadas, nos animam aqui no blog a escrever sempre mais e saber que estamos no caminho certo de querer inspirar outras mulheres nesta faixa etária a fazer o mesmo. Se você tem o sonho de viajar, mesmo que pela primeira vez, que tal pegar carona no exemplo dessas 7 mulheres maravilhosas e suas viagens inspiradoras?

“Meu lugar no mundo”

Mulheres viajantes: moça mostra placa do caminho de santiago

Luciana Gontijo chega à Espanha, fazendo o icônico caminho (Foto: João Marcos Gontijo/Divulgação)

Viajar é a maneira mais prazerosa de entender o mundo – e o meu lugar no mundo.

Sempre que eu encontro cidades que gostam de pessoas fico de queixo caído. Fico comovida com as soluções, muitas vezes simples, que tornam as cidades mais amigáveis, mais bonitas e mais fáceis de se viver. Quando o espaço da cidade é realmente planejado para o público, não para o interesse privado.

Brinquedos infantis bonitos e bem bolados; sistemas de transporte eficientes e racionais; parques e jardins, seus bancos, fontes e gramados; ciclovias, quadras públicas de esportes, áreas para bikes e skates, teatros de arena; calçadas largas e equipadas para a acessibilidade; árvores bem tratadas, sem podas deformantes; festivais, mostras e festas populares valorizadas – são inúmeras as maneiras de as cidades respeitarem seus moradores e atraírem visitantes.  

Sabático

Acho impossível dizer qual das viagens, nesses quase 30 anos de andanças pelo mundo, foi a mais marcante. A primeira ida ao exterior, em 1990, simplesmente por ser a primeira? Os países de culturas tão diferentes da nossa, como o Marrocos, a Turquia, a Rússia, a Hungria ou a Eslovênia? O mar de sete cores na ilha paradisíaca de San Andrés, entre a Colômbia e a Nicarágua? O maravilhoso e surpreendente México? As primeiras bolas de neve, no Norte da Argentina? Cuba, com Fidel Castro ainda vivo?

Talvez a mais marcante seja a viagem que fazemos agora, um ano sabático em Portugal para revisitar cidades já bem conhecidas e conhecer outras tantas pela Europa.

Luciana Gontijo, 57 anos, jornalista – Atualmente em um ano sabático com o marido João Marcos Gontijo, não se preocupa em marcar o mapa-múndi com tachinhas coloridas, não conta os países ou as cidades que já conheceu – prefere listar os inúmeros lugares que pretende visitar um dia.

“Viajo para me tornar outra”

Viajar para mim significa estar diante do estranho e do não-planejado. Ser radicalmente lançada na alteridade, à medida em que somos obrigados a falar outra língua e nos inserirmos em situações cujos códigos não deciframos.

Pelo menos não imediatamente. Viajo para me desinstalar do lugar já bem arranjado e estabelecido do cotidiano. Viajo para me tornar outra, porque o estrangeiro aciona a alteridade no mais íntimo de mim mesma.

Mulheres viajantes: foto mostra moça no deserto, camelos

Mônica Lima, no Deserto da Judéia (Foto: Arquivo Pessoal)

Israel

Uma das viagens que mais me impactou foi a que fiz para Israel, em abril de 2017. Embora soubesse da existência do conflito com a Palestina, ter sido interrogada por 40 minutos pela imigração israelense, na chegada a Tel Aviv, ter cruzado o “Muro da Vergonha”, que separa a Palestina do Estado de Israel, ter estado a 5 Km da fronteira com a Síria e de campos minados, ter visitado uma Jerusalém esquartejada entre cristãos, muçulmanos e judeus, me fez entender de uma forma nao teórica o que é um país em guerra.

Além do mais, foi surpreendente visitar minha geografia e herança católicas e não me reconhecer naquilo que me constitui o mais profundamente.

Mônica Lima, psicóloga e professora, 54 anos – Já perdeu a conta de quantos países conhece. Atualmente, os lugares que mais gosta de visitar são aqueles cujas paisagens e culturas são muito diferentes da microcultura de Belo Horizonte (MG)

“Sempre volto diferente”

 

Mulheres viajantes: senhora à beira de um lago

Maria Eugenia Athayde, à beira do Lago Nago, em Okinawa (Foto: Arquivo Pessoal)

Viajar é aprender. Gosto de aprender sobre novas culturas e a forma possível de transitar em lugares completamente diferentes do que estou habituada. Viajar é ampliar conhecimentos e realizar novas e importantes reflexões. Sempre retorno diferente e estimulada a fazer mudanças. Há coisas que ocorrem durante a viagem que podem mudar sua vida para sempre. Visão de mundo, rever conceitos, refletir. Construir novos projetos.

Não importa a idade, mas você tem que ter um perfil de viajar. Muitos têm um perfil acomodado. Após os 50 anos só aumenta a possibilidade de compreensão do que verdadeiramente importa durante a viagem e também alguns desafios, que obviamente são diferentes para todas as idades.

Agora viajo só. Percebo que estou a desbravar meu potencial e também o mundo. O que me faz muito feliz.

Viajar requer planejamento. Tempo, recursos, roteiro, e ainda tornar claro quais são os seus valores e objetivos de vagem. Viajar desta forma faz toda a diferença.

A delicadeza de Okinawa

Okinawa, no Japão foi uma viagem surpreendente, um grande presente. Um local com um clima semelhante ao do Nordeste do Brasil. Uma cultura milenar. Um povo encantador. Um lugar belíssimo.

Fui a Okinawa para o nascimento da minha segunda neta. Fui “vovozar”. Enfrentei umas 36 horas de viagem para chegar lá. Dois dias depois da minha chegada minha nora entrou em trabalho de parto. 

Okinawa é simples e sofisticada ao mesmo tempo, além de ser plena em belezas naturais. Os prédios das habitações são simétricos, discretos e belos, além de reforçados, pois é uma região de tufões e terremotos.

Tive um impacto forte ao ver túmulos por todos os lados da ilha. Resultados da segunda guerra mundial. Fiquei impressionada. São muito bonitos. Impressiona o fato de que estão nos lugares mais inusitados.

As praias são lindas, os parques são incríveis. O japonês ama jardins e hortas. Foi um período de floração da sakura (cerejeira). Muito lindo presenciar. Passei três meses lá e  pude aproveitar muito.

Maria Eugênia Souza de Athayde Nunes, 62 anos, coach, palestrante e facilitadora de grupos – Viaja frequentemente no Brasil para rever pessoas queridas, cursos ou congressos. Para o exterior tem ido ao encontro do filho, que a cada três anos muda de país: França, Itália, Estados Unidos e recentemente à Okinawa, no Japão. Faz as malas de 3 a 4 vezes no ano.

“Consentindo o desconhecido”

Viajar é… ficar aberta a novas emoções e descobertas. É deixar para trás o previsível e a rotina e se permitir conhecer pessoas, lugares, caminhos, aventuras e, principalmente, sentir a emoção de cada olhar, estabelecer trocas afetivas com desconhecidos o tempo todo.

É fugir de roteiros planejados e se jogar em vielas, casarios antigos, templos, monumentos. É almoçar com os nativos, ouvir suas histórias, consentir o desconhecido, abraçar a história, respirar aromas típicos, imaginar os personagens que viveram ali no passado e criar histórias fictícias.

Índia

Mulheres Viajantes: mulher e homem em mercado de especiarias na India

Ana Elizabeth em mercado na Índia (Foto: Arquivo Pessoal)

Duas viagens são inesquecíveis. Em 2006, passei 22 dias na Índia. Comecei com uma imersão de 12 dias na Brahma Kumaris, no Rajastão, em uma universidade de meditação, junto a quase 300 pessoas de mais de 40 países.

A segunda parte da viagem fiz ao lado do meu amigo muçulmano, Sheik Ayub, um motorista de táxi que me apresentou o país de um jeito único e mágico, me protegeu e esteve sempre ao meu lado. Tive o privilégio de jantar com sua mulher, Bano, e seus filhos e criamos um elo espiritual que perdura até hoje. Conheci Mumbai, Udaipur, Jaipur, Orcha, Khajuraho, Agra e Varanasi, o berço do hinduísmo.

Itália

Em 2014 fiz uma viagem de 30 dias pela Itália: Veneza, Florença, Vernazza, La Spezia, Monterosso, Corniglia, Manarola, Riomaggiore, Levanto, San Giminiano, Cortona, Siena, Pizza, Roma, Luca.

Foi inesquecível percorrer as ruelas floridas com seus personagens, ver e conversar com grupos de amigos sentados no banco, simplesmente desfrutando o prazer de estar ali juntos, despreocupadamente. Fiquei encantada com as madonas estendendo roupas nas janelas, os temperos, as massas e os vinhos, que me deixavam extasiada.

O italiano não é exatamente gentil, mas há exceções. Um país que nos leva a voltar no passado mesmo sem ter vivido lá. Será?

Ainda não sei qual será a próxima viagem, mas com certeza será mais uma oportunidade de lidar com minhas limitações e me jogar no desconhecido.

Ana Elizabeth Diniz, 58 anos, jornalista

Ama viajar sozinha e, periodicamente, se entrega a períodos sabáticos. Para ela é vital ficar consigo por um tempo, alargar seus  limites, descortinar o novo, sem medo de ser feliz.

“New York, New York”

Mulheres viajantes; mulher em frente a rio na cidade de Nova Yoirk

Anna Cristina Pinto, na cidade que mais ama no mundo (Foto: Arquivo Pessoal)

Não importa quantos lugares já fui ou quantas viagens já fiz porque nada se compara a NY. Após 9 idas e vindas, a “capital do mundo” continua sendo a mais bela, a melhor. O desafio é escrever o que mais gosto na cidade. Curto cada momento, desde a programação da viagem (sempre com amigas/irmãs do coração) até a chegada lá.

A cidade tem muita coisa bacana pra se ver e fazer: lojas, bares, restaurantes, teatros, museus, etc. Ninguém pode deixar de conhecer NY. Já estou pensando na próxima.

Anna Cristina Rios Cabral Pinto, advogada, 59 anos – Já pensa em comemorar os 60 em Nova York. Ela não conta as viagens que fez, mas sim quantas vezes foi a apenas uma cidade. Sim, Nova York. A-pai-xo-na-da

“Oportunidade para crescer”

Mulheres viajantes mulher no mar

Sheila Máximo, no Mar Morto

Quando viajamos conhecemos lugares, culturas e pessoas diferentes e temos oportunidade para crescer e aumentar a tolerância.

São valores que vamos adquirindo inclusive quando percorremos o nosso próprio país e nosso próprio Estado. A única coisa que levamos da vida é o que viemos aprender, conhecer e melhorar.

E só levamos da vida o que vivemos. E aqui fica o que conseguimos plantar nos corações das famílias e amigos.

                                                                      Índia e Turquia

Qual viagem que mais gostei? Amei todas e cada uma de um modo. Encantei-me com a Índia, para onde já fui 2 vezes, por causa da cultura e da religião.

A energia que circula naquele país é mágica. Os olhos deles sorriem. Se me chamarem outra vez eu volto. Apaixonante mesmo é a Turquia, eu tinha vontade de morar lá.

Sheila Máximo, química e proprietária de um laboratório, 70 anos – Viaja sempre que tem oportunidade, a trabalho e lazer. Conhece 51 países. Confessa que tem conhecimentos básicos de inglês e espanhol mas usa a linguagem da mímica para se comunicar e não se aperta. Define-se como uma “Maria Mala Pronta”: chamou está indo.

“Sete saias pelo mundo Trip Rajão”

 

Mulher com Veneza ao fundo

Ana Maria Rajão, em Veneza (Foto: Arquivo Pessoal)

 

Foram tantas as viagens que fiz mas prefiro falar da última que apelidamos de Sete Saias Pelo Mundo Trip Rajão. Foram sete mulheres lindas, poderosas e resolvidas, que escolheram 4 países para passear juntas – Itália, Portugal, França e Londres.

Sempre quis viajar com minhas irmãs e filha. De quebra, foram mais 3 sobrinhas. Ou seja, mulheres entre 40 e 70 anos. Houve muitas reuniões para definir roteiros, sempre regadas a comes e bebes.

De Veneza a Paris 

Fizemos tudo por conta própria sem recorrer a agência. Usamos hospedagem do AirBnb, o que nos agradou muito. Viajar sem excursão é sempre uma grande surpresa.

Foi uma loucura a viagem de trem de Veneza para Paris, por causa das malas. Tinha mais malas do que espaço no vagão. E a primeira coisa que todas fizeram ao chegar na capital francesa foi comprar mais malas.

Ana Maria Rajão, 68 anos, aposentada – A paixão por viajar já nasceu com ela. Quando os filhos eram pequenos fracionava as férias para viajar mais vezes. Quando viaja, gosta de, ao entardecer, sentar num café ou praça, e observar as pessoas passando, sentir o dia a dia dos locais.

Tem 50 ou mais, viaja ou quer começar a viajar?

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