Patricia Lamounier – You see… See what? Na verdade, a expressão You See, em inglês, é usada também para comentar algo ou iniciar uma frase ou linha de pensamento. Numa destas andanças por Kyoto, no Japão, minha amiga Miki e eu decidimos parar em um restaurante. Estávamos em Pont-Cho, uma pequena ruela, famosa pela prostituição, casas de gueixas, casas de chás e outras formas de entretenimento, desde o século 16.
Hoje, Pont-Cho é iluminada à noite por lanternas tradicionais e é reduto de restaurantes e bares dos mais diversos. Encontra-se todo tipo de comida ali! E nós precisávamos desesperadamente jantar!
A entrada do restaurante era pequena e havia uma brilhante lanterna vermelha dependurada do lado direito de quem entrava! O cardápio em japonês mostrava as fotos dos pratos que poderiam ser servidos. Além disso, parte do menu estava em inglês e num custo x benefício legal. Perfeito!!!
O restaurante era meio japonês, meio chinês e meio tailandês! É tanto “meio” que na verdade não entendi bem o estilo, o que pouco importa, pois a comida era divina!!
Uma conversa pra lá de animada em Pont-Cho
Não havia mesas e sim um longo balcão com banquinhos definidos e voltados para a cozinha. Acho que naquela noite me senti a mais poderosa das criaturas estrangeiras, dominando o ambiente e falando inglês com uma japonesa. Estávamos sentadas confortavelmente naquele balcão, comendo, bebendo e rindo que nem duas alopradas.
Logo depois de nos sentar e pedir duas cervejas, chegou um grupo de turistas ingleses. O senhor que sentou ao meu lado me fitou e perguntou se falava inglês (óbvio, né?). Balancei a cabeça afirmativamente e ele me perguntou se a cerveja era boa. Disse que “By the Draft” no Japão: não tinha como errar!
Desde quando sou expert em cultura japonesa? Desde quando sou apaixonada por cerveja? E o pior, desde quando virei especialista em cervejas japonesas? Sintetizando: ele pediu o mesmo que eu e agradeceu!!
Entre risos, minha amiga e eu voltamos a conversar sobre assuntos menos práticos e ainda lembrando do final de semana em Hakone, uma pequena cidade aos pés do Monte Fuji. Ríamos da lembrança da fantástica cadeira de massagem que tanto amei! Comentávamos das posições, das vibrações, do aquecimento, dos gemidos e da vontade que tive de pedi-la em casamento.
Mas, desta vez, fomos interrompidas pelo senhor que estava sentado ao lado da Miki. Ele simplesmente entrou na conversa, dizendo que deveríamos esquecer a cadeira e nos casar com milionários!! Ali em Kyoto? Então olhamos com um ar de brincadeira e perguntamos se conhecia alguém para nos apresentar! Ele disse que não, mas que era só procurar!! Dissemos que não estávamos à procura de milionários…
Uma cadeira é melhor que mil perguntas
Eles acham que podem tudo! Não têm limites!!! Além disso, não poderíamos ter os amigos que quiséssemos e o nosso ir e vir ficaria seriamente comprometido. E uma cadeira nos acolheria, nos esquentaria e nos massagearia sempre que quiséssemos. E não encheria a paciência com aquelas célebres perguntas: “Hay algo para se comer nesta casa?”; “Onde você estava?”; “Fazendo o quê???”. O que geraria outras tantas perguntas: “Com quem?”; “Por que??”. Isso, se não viessem acompanhadas de algum outro tipo de comentário como: “Você demorou…”
Mais uma vez, ele nos olhou incrédulo e perguntou de onde éramos, onde trabalhávamos e o que fazíamos em Kyoto. Ao contar sobre as nacionalidades, o que fazíamos e o que iríamos fazer, mais surpreso ele ficou!!! Disse que juventude era tudo! Miki e eu trocamos olhares e pedimos mais cervejas para brindar o elogio da idade! Santê! Kampai!! Bottons Up!!!
Papo bom, mas bateu o cansaço
Nosso companheiro de balcão contou-nos que estava aposentado, viajava com a esposa pelo mundo e que os filhos moravam no exterior. Fez-nos saber que o custo de vida inglês estava na estratosfera, que a Índia é um país muito pobre e de muita corrupção e que viajar tornou-se a grande razão de sua vida!
Mencionou também que caixão não tem gavetas! Disso tudo nós já sabíamos há tempos, mas não mencionamos para não estragar a conversa!! A noite foi muito animada e cheia de conversas bem engraçadas. Afinal, inglês tem senso de humor!!!
Já na terceira caneca de cerveja, depois de vários pratos de legumes, carnes e dos tradicionais rolinhos, pedimos a conta. Era hora de nos transferir ao hotel em que estávamos, o Japonês Inn. Precisávamos de um banho quente, um chá e uma boa noite de sono – enroladas nos quimonos e enfiadas nos futtons japonês, lindamente dispostos sobre a trama de um tatame verde!
Leia também: Uma casa de banho japonesa
Tem uma história de viagem para contar?
Gostou do relato da Patricia Lamounier sobre sua noite animada em Pont-Cho, Kyoto? Tem uma história de viagem para contar? Manda pra gente no desaiaspelomundo@gmail.com. Seu relato será recebido com carinho e publicado dentro de nossos parâmetros de edição. Antes entramos em contato com você. Abração
Marlyana e Patricia
comentários