Marlyana Tavares – Fazer o roteiro Eva Perón é entrar em contato com uma personagem gravada nos corações e mentes dos argentinos, em especial, dos portenhos.

“Evita Perón, la santa peronista! Evita Perón, la santa peronista”. Essa frase ficou gravada em mim na primeira vez que ouvi a ópera Evita e depois, quando vi o filme estrelado por Madona e Antonio Banderas.

Por isso, quando pisei em Buenos Aires, já estava decidida a conhecer tudo que pudesse sobre a mulher que encantou Juan Perón, foi uma semi divindade para os argentinos, dividiu opiniões políticas, e morreu precocemente de um câncer. 

Para fazer o roteiro Eva Perón, você não precisará fazer um circuito grande. Os pontos ficam nos bairros Recoleta, Bairro Palermo e Centro de Buenos Aires. De alguns pontos a outros dá para ir a pé ou gastando muito pouco de ônibus, táxi ou metrô.

Cemitério Recoleta, o número 1 do roteiro Eva Perón

É o lugar mais procurado pelos turistas, seja pelo interesse genuíno na história, seja pelo folclore em torno dela. O cemitério fica no bairro mais chique de Buenos Aires, o bairro Recoleta, onde fiquei hospedada. 

Roteiro Eva Perón: túmulo de Evita no Cemitério Recoleta (Foto: Marlyana Tavares)

Roteiro Eva Perón: túmulo de Evita no Cemitério Recoleta (Foto: Marlyana Tavares)

A entrada ao Cemitério La Recoleta não é cobrada. Há visitas guiadas, gratuitas, em espanhol e inglês, de terça a domingo. Aos sábados, domingos e feriados, os horários são 11h e 15h; de segunda a sexta, às 11h e 14h. O ponto de encontro é na Calle Junín, 1760. A direção do cemitério recomenda marcar com antecedência: visitasguiadasrecoleta@buenosaires.gob.ar/0800-4444-2363 (ramal:1451)

Outra opção é contratar guias avulsos que ficam na porta do cemitério e pedem 300 pesos por grupos de no mínimo 2 pessoas para percorrer as alas. Quem não estiver disposto a pagar pode baixar um aplicativo (há um cartaz explicativo na entrada) e fazer uma visita autoguiada. Eu fiz isso e foi ótimo.

O túmulo de Evita, caracterizado apenas como da “Familia Duarte”, está situado numa rua estreita do cemitério. Não se preocupe – você vai achá-lo porque, apesar de acanhado em relação aos outros, é o mausoléu mais procurado da ermida. Forma-se uma fila para vê-lo: em mármore negro, com inscrições do busto de Eva em bronze, está sempre repleto de flores e bilhetes.  

Estive duas vezes no Recoleta: em um domingo e em um dia de semana. No domingo, a fila estava bem grande. O tempo para ficar ao frente ao jazigo e fotografá-lo foi mínimo – as pessoas vão passando rapidamente porque tem muita gente atrás para fazer o mesmo. Se puder escolher, visite o cemitério em dia de semana e aproveite para conhecê-lo mais profundamente, bem como as redondezas. 

As voltas que um corpo dá

Roteiro Eva Perón: seu corpo e o médico Ara, que o embalsamou (Wikipedia.pt)

Corpo de Eva Perón e o médico Pedro Ara, que o embalsamou (Wikipedia.pt)

O corpo embalsamado de Evita repousa em um caixão de aço, a 5m de profundidade no Cemitério La Recoleta, mas nem sempre foi assim.

Maria Eva Duarte Perón morreu com 33 anos, em 26 de julho de 1952, no segundo mandato de seu marido, Juan Perón. O corpo, embalsamado pelo médico Pedro Ara, foi velado no Congresso e depois na sede da CGT por  milhões de pessoas durante duas semanas.

Três anos depois, com o golpe que derrubou Perón, o corpo foi roubado da Central dos Trabalhadores por partidários da Revolução Libertadora e envolto numa trama que incluiu escondê-lo nas ruas de Buenos de Aires; no sistema de abastecimento de água municipal; e até atrás de uma tela de cinema.

Depois, com apoio da Igreja, foi enterrado com nome falso num cemitério de Milão, na Itália. Toda a operação foi coordenada pelo ex-ditador Pedro Aramburu, e executado pelo movimento Motoneros, favorável a Perón. Aramburu está num requintado mausoléu no centro do La Recoleta.

Somente em 1973, quando Perón retornou à Argentina após um exílio na Espanha, onde havia recebido o corpo da primeira mulher em sua residência, Evita encontrou repouso permanente.

Plaza Evita

Depois de visitar o Cemitério Recoleta, caminhe até a Biblioteca Nacional, ainda no bairro Recoleta, até a Plaza Evita. Ali, há um monumento dedicado a Eva Perón, feito pelo escultor argentino Ricardo Gianetti, com quase 20 metros de altura, em bronze e granito na base.

Monumento a Maria Eva Duarte Peron (Foto: Patricia Lamounier)

Monumento a Maria Eva Duarte Peron (Foto: Patricia Lamounier)

A mulher esguia, com o coque peculiar, é retratada caminhando com o vento incidindo sobre as vestes. O projeto inicial começou a ser pensado quando Eva Perón estava viva, mas já doente. Era para ser uma coisa grandiosa, um memorial onde seus restos seriam depositados. Mas o resultado final foi bem menor.

Onde hoje está o moderno prédio da Biblioteca Nacional ficava o Palácio Unzué, varrido do mapa pelos militares anti-peronistas logo após o golpe que apeou Juan Perón do poder, em 1955. Perón e Eva moraram no palácio e foi lá que ela passou seus últimos dias.  

Onde fica

Avenida Libertador 2600, entre Aguero e Austria

Como chegar

Do Cemitério Recoleta à Plaza Evita pegue o 130 A. A pé, gasta-se cerca de 8 minutos.

Museu Evita Perón

Dentro do roteiro Eva Perón, o Museu Evita não pode ficar de fora. Foi onde consegui “ficar mais perto dela”. O museu fica numa bela casa de dois andares, onde antes funcionou a Fundação Eva Perón, criada em 1948 pela primeira-dama para servir como lar temporário de mulheres e crianças pobres. 

Feito de pedra, com portadas e sacadas ornadas por gradeados trabalhados em ferro, o edifício é considerado Monumento Histórico Nacional. 

Roteiro Evita: entrada do Museu Evita

Entrada do Museu Evita: casa abriga grande acervo da primeira-dama argentina (Foto: Marlyana Tavares)

 O museu traça uma linha do tempo, contando a história da vida de Eva Perón por meio do vestuário da primeira-dama argentina. Passa-se ali duas horas super agradáveis andando pelas salas repletas de lembranças, objetos, referências. Há uma cafeteria/restaurante, se quiser aproveitar para matar a fome.

Na entrada, o impacto é grande com a série de vestidos usados por Evita. O primeiro andar é dedicado ao começo da vida de Eva, sua infância e adolescência pobre em Los Toldos e Junín. Na primeira sala, destaca-se a máquina de costura com que a mãe Juana Ibargurén, criou os filhos bastardos de um fazendeiro rico e a trajetória de Eva Perón como rádio-atriz e atriz.

O segundo piso é dedicado à sua vida com Perón. O casamento, reportagens com ela sobre o voto feminino, sua trajetória política ao lado do marido.

Há filmes com discursos de Perón e a mulher, sua peregrinação em missões diplomáticas pela Europa e América Latina e, finalmente, trechos de seus últimos dias. 

Diferentes figurinos para diferentes ocasiões, todos muito elegantes

No primeiro piso, galeria com figurinos: o sóbrio azul-marinho com renda no ombro e a capa de plumas entre eles (Fotos: Marlyana Tavares)

Das aparições em trabalhos e missões sociais às sessões culturais no Teatro Colón ou viagens diplomáticas pela Europa e América Latina, Evita Perón sempre se portou com elegância. Isso que mais me impressionou na mostra de vestidos, dos mais simples aos esplenderosos.

Nos encontros políticos e sociais, ela usou trajes discretos, mas sempre com toque de charme, como o duas peças de linho azul-marinho com detalhes de renda guipir bege, ao discursar para trabalhadores.

Como primeira-dama, uma esfuziante capa de plumas de avestruz que parou o Teatro Colón, em 9 de julho de 1950. Ao visitar o Palácio da Justiça, em Roma, numa missão diplomática, o figurino escolhido foi um tailleur de renda de crepe de seda creme e um chapéu com strass.

Chapéus, carteira, luva e outros adereços compuseram o "look" Evita (Foto: Marlyana Tavares)

Chapéus, carteira, luva e outros adereços compuseram o “look” Evita (Foto: Marlyana Tavares)

Não raro, seus vestidos – de festas, usados em viagens ou no trabalho – são assinados por grandes costureiros. Christian Dior foi o principal. Chapéus, luvas, peles, adereços para seus indefectíveis coques também têm lugar numa das vitrines do museu.

Onde fica o Museu Evita

Rua Lafinur, 2988, Bairro Palermo

Funcionamento

De terças a domingos e feriados, das 11h às 19h

Como chegar
Linhas de ônibus em Santa Fe: 12, 29 , 36, 39, 55, 68, 111, 152
Linhas de ônibus em Las Heras: 10, 15, 37, 41, 59, 60, 64, 93, 95, 108, 110, 118, 128, 141, 160 e 188
Metrô linha D Plaza Italia Station.
Para informações sobre visitas guiadas, telefone: (5411) -4807-0306 y (5411) -4809-3168

Avenida 9 de julho

Roteiro Eva Perón:Avenida 9 de julho Dois grandes painéis nas brancas fachadas norte e sul do prédio do Ministério da Saúde na larguíssima Av. 9 de julho retratam dois momentos de Eva Perón: ela como radialista e depois já como primeira-dama. A obra, do escultor Alejandro Marmo, foi inaugurada no 59º aniversário de morte de Evita, em 2011.


Um dos painéis de Alejandro Marmo na 9 de julho mostra a Eva Perón radialista (Foto: Marlyana Tavares)

Dois grandes painéis nas brancas fachadas norte e sul do prédio do Ministério da Saúde na larguíssima Av. 9 de julho retratam dois momentos de Eva Perón: ela como radialista e depois já como primeira-dama.

A obra, do escultor Alejandro Marmo, foi inaugurada no 59º aniversário de morte de Evita, em 2011.

Casa Rosada

Quem percorre as dependências da Casa Rosada, durante a visita guiada se depara com várias referências a Eva Perón.

Ao lado da sala de jantar, onde figura uma mesa oval com cadeiras acolchoadas, fica um pequeno cômodo com uma mesa simples, onde Eva costumava despachar. Dessa sala, abrem-se duas grandes janelas que levam ao balcão de onde a primeira dama falava ao povo.

O discurso mais célebre foi o de despedida, quando Evita, já bastante debilitada pelo câncer, faz uma espécie de discurso de despedida aos cidadãos posicionados na Plaza de Mayo.  O momento inspirou a música Dont´Cry for Me Argentina, escrita por Tim Rice e musicada por Andrew Lloyd Weber para o ópera Evita.

Roteiro Eva Perón: na Casa Rosada, sorriso em retrato oficial provocou polêmica na época (Foto: Marlyana Tavares)

Roteiro Eva Perón: na Casa Rosada, sorriso em retrato oficial provocou polêmica na época (Foto: Marlyana Tavares)

No salão dos vitrais da Casa Rosada há um enorme e até certo ponto polêmico retrato de Eva com Juan Perón. A obra deu o que falar porque, pela primeira vez, um casal presidencial foi retratado sorrindo. Não se usava aquilo. A seriedade dava o tom das fotos oficiais.

Foto de Eva e Perón decora salão presidencial que leva o nome da primeira-dama (Foto: Marlyana Tavares)

Foto de Eva e Perón decora salão presidencial que leva o nome da primeira-dama (Foto: Marlyana Tavares)

Há também o Salão Eva Perón onde hoje acontecem reuniões presidenciais, onde um discreto retrato dela com o presidente Juan Perón decora uma parede.

 

Dos balcões, Eva falava ao povo que se juntava em multidão para ouvi-la (Foto; Marlyana Tavares)

Dos balcões, Eva falava ao povo que se juntava em multidão para ouvi-la (Foto; Marlyana Tavares)

Como chegar à Casa Rosada

Calle Balcarce, 50, Plaza de Mayo

Metro: Linha A: estação Plaza de Mayo / / Linha B: estação Leandro N. ALéM / / Linha D: estação Catedral.

Linhas de ônibus: 2, 4, 6, 20, 22, 24, 28, 29, 33, 50, 56, 61, 62, 64 , 74, 91, 93, 99, 105, 109, 111, 126, 130, 140, 142, 143, 146, 152.

Plaza de Mayo

A Plaza de Mayo foi palco da Revolução de Maio de 181o, que deflagrou o processo de independência argentina. Daí o seu nome. Ao longo do tempo, manteve a tradição de palco político.

Foi ali que milhares de trabalhadores, os chamados descamisados, se aglutinavam para ouvir os discursos de Eva Perón. Do balcão da Casa Rosada, ela vibrou com eles quando Perón foi eleito. Chorou ao lhes comunicar que não sairia candidata do Partido Peronista e ao fazer sua despedida quando estava muito doente.

Em volta da praça estão alguns dos edifícios mais importantes do país como a própria Casa Rosada, o Cabildo e a Catedral Metropolitana.

 

Plaza de Mayo vista do balcão da Casa Rosada (Foto: Marlyana Tavares

Plaza de Mayo vista do balcão da Casa Rosada (Foto: Marlyana Tavares

Visitada por milhares de turistas a praça é cenário de manifestações o tempo todo. Sempre há um ou mais blindados da polícia estacionados. Podem ser manifestações pequenas e rápidas, como também maiores e demoradas. Com tribos de todas as idades e temas os mais diversos. O portenho é politizado.

Madres de Mayo se reúnem às quintas-feiras na praça (Foto: Marlyana Tavares)

Madres de Mayo se reúnem às quintas-feiras na praça (Foto: Marlyana Tavares)

Às quintas-feiras, as Madres de la Plaza de Mayo fazem três voltas na praça para lembrar seus filhos desaparecidos durante a ditadura militar na Argentina. Elas fazem isso desde 1977.

Presenciei uma dessas vezes, em novembro de 2018. Elas completavam 41 anos de manifestações. Foi emocionante. Se você estiver por lá, procure visitar a praça às quintas, às 15h. Junte-se a elas na marcha.

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