Mônica Santos (texto e fotos) – Quando eu e minha amiga Hélia Ventura combinamos de conhecer a Rússia este ano, achei interessante a ideia, mas não tinha tantas expectativas em relação àquele país. Estava até um pouco apreensiva, porque a viagem seria feita de navio, partindo de Moscou. Seriam 13 dias em um cruzeiro pela Rússia, percorrendo rios e lagos.  Nunca tinha feito uma viagem como aquela e, como gosto muito de caminhar pelas cidades e sentir mais de perto sua gente e seus costumes, pensei que poderia ser um pouco tedioso, mas também uma oportunidade. Por isso embarquei na excursão do navio Crucelake iniciando em 10 de maio, num percurso de cerca de 1,3 mil quilômetros, de Moscou a São Petersburgo.

Cruzeiro pela Rússia: embarcando no Crucelake

Moça posa em frente a barco azul e branco, que realiza cruzeiro pela Rússia Uma dica para quem pensa muito em conforto nas viagens de navio é verificar, antes de comprar o pacote, o tamanho da cabine em que vai se hospedar, para que não se sinta desconfortável e isso atrapalhe a viagem.  O Crucelake, navio em que viajamos, não é muito grande e achei a cabine bem apertada para duas pessoas. Porém, os espaços externos como a cafeteria, o bar e os restaurantes são bem aconchegantes.
Em cruzeiro pela Rússia, duas mulheres brindam no navio

Eu e a amiga Hélia Ventura brindando na área de lazer do Crucelake

 

Como foi a comida a bordo

A excursão foi all inclusive e fizemos, praticamente, todas as refeições no navio. Mesmo quando saíamos para as excursões, retornávamos para o almoço e o jantar.  
Foto mostra restaurante com mesa posta

Restaurante do navio

A comida no navio contou com muitas verduras, carne de suíno, frango e peixe. Eu sempre preferia a última opção. Serviam acompanhados de batata, purê e, em certas ocasiões, arroz. Mas confesso que gostei muito mais dos pratos servidos em alguns restaurantes que tive oportunidade de conhecer.

Como é a comida nos restaurantes russos

Sempre antes do prato principal é servida uma sopa e a mais famosa na Rússia é a Borsch,  que tem como legume principal a beterraba, mas contém também, repolho, cenoura, batata, cebola, tomate, carne, azeite. A carne vem em pedaços maiores, e o prato pode vir acompanhado de pão preto e da smetana (um dos cremes, tipo cream cheese, muito usado na Rússia, acompanhando várias comidas).
Prato de madeira com sopa vermelha e guarnições de verduras e creme

Sopa borsch é tradição como entrada nas refeições russas (Deposit Photos)

A smetana está presente, também, num dos pratos mais tradicionais da Rússia, o strogonoff, que envolve os cubos de carne, – cortados em tamanho semelhante ao nosso, e tem um sabor especial, muito bom! O nome desse prato surgiu em homenagem a algum membro da numerosa e importante família Stroganov – mais provavelmente, Aleksander Stroganov de Odessa ou o conde Pável Stroganov. Um chef francês que trabalhava para a família inovou ao combinar a tradicional carne grelhada da culinária francesa com a tradição russa dos molhos. O sucesso foi imediato: em primeiro lugar, era uma receita prática e de “encher a barriga; fora isso, podia ser facilmente dividida em porções.
Prato de degustação de comidas típicas

Prato de degustação de comidas típicas, o “Russian Degustation”

Um bom lugar para almoçar ou jantar é o Café/ Restaurante Pushkin, em homenagem ao mais famoso poeta russo, Alexander Pushkin, onde comi o melhor strogonoff de Moscou. Atmosfera única, o casarão que abriga o atual restaurante foi construído no século XVIII e transformado em uma farmácia e biblioteca em meados do século XIX. Ele ficou famoso há mais de 55 anos quando Moscou foi visitada pelo cantor francês Gilbert Bécaud e o Café Pushkin (que não existia ainda) ficou imortalizado na canção “Nathalie” (1964), pela qual se apaixonou tanto o povo francês quanto soviético. Assim são os versos: “A Praça Vermelha estava branca, / A neve cobria tudo, / E eu seguia neste domingo frio / Nathalie / Ela falava frases solenes / Sobre a Revolução de Outubro / E eu já ficava pensando / Que depois da tumba de Lenin / A gente iria ao Café Pushkin / Tomar chocolate quente”. Muitos turistas franceses, inspirados na canção, procuravam em Moscou o café,  só que não existia! Assim, em 1999, o empresário Andrei Dellos tornou a imaginação do cantor uma realidade: abriu o restaurante Café Pushkin em uma mansão no centro de Moscou. A inauguração do local contou com a presença de Gilbert Bécaud, cantando, naturalmente, “Nathalie” No café, peça o prato “Russian Degustation”, e aprecie, de uma única vez, as várias iguarias russas, como o Strogonoff e o Frango à Kiev, que consiste de peito de frango desossado e recheado, que depois é frito ou cozido. No prato degustação vem também o Pelmeni, bolinho de massa recheado com carne moída e muito parecido com o capeletti, servido na manteiga e coberto com creme de leite, ou usado em sopas. Acompanha ainda o Pirozhki, um delicioso pãozinho recheado com carne moída ou vegetais, além de uma sopa cremosa de cogumelos, muito comuns no país e de variados tipos. Inclusive, “caçar” cogumelos na floresta é uma tradição russa.

Como foi o cruzeiro pela Rússia: clima

Cruzeiro pela rússia: água , vegetação e o céu avermelhado pelo nascer do sul

Nascer do sol às 2h30, depois do tardio anoitecer, às 22h

Por pura sorte ou proteção do santo viajante Santo Antônio – pois havíamos verificado o clima e indicava chuvas – o sol nos brindou com dias claros e noites também durante nossa navegação pela Rússia. Pudemos presenciar o fenômeno das “noites brancas” do verão russo: é quando começa a escurecer, por volta das 22h, mas às 2h30 o sol já desponta e colore de amarelo o “horizonte” do céu, muito lindo! Outro “fenômeno” que também chamou minha atenção foi ver a lua ao “contrário”. No Brasil,  a lua crescente é em forma de um “C”, lá é de “D”. Fiquei notando ela crescer ao contrário e achando a coisa mais  estranha do mundo. Mas é assim mesmo, estava em outro hemisfério e (fazer o quê?) era só apreciar sua forma cheia e seus raios iluminando os caminhos nos lagos e rios por onde passávamos. 

A chegada e os passeios por Moscou

Moça de óculos escuros sentada em canteiro de tulipas

Tulipas em todos os cantos no caminho para o navio contrastaram com a ideia de uma cidade cinza

Compramos a excursão  com saída no dia 10 de maio e chegada no dia seguinte em Moscou. Na chegada, já fomos direcionados diretamente para o barco, que fica ancorado no Rio Moscou. Após o jantar, foram feitas as apresentações dos passeios, excursões e espetáculos opcionais na faixa de R$ 160,00 (2.600 rublos). Do aeroporto de Moscou até o porto onde estava o navio que nos levaria em um cruzeiro pela Rússia, o Crucelake, já pudemos perceber o grande número de praças muito arborizadas. Não podia imaginar tanto verde, após estudar por anos sobre a revolução russa e suas cores sombrias e opacas. Os canteiros são também cobertos de tulipas. Essa flor, importada da Holanda, está presente em toda a Rússia, nas praças, palácios, museus, colorindo-a de vermelho, amarelo, branco e laranja. Tudo muito bem cuidado por jardineiros que aproveitam o verão para dar a manutenção necessária nos locais públicos. (A Mônica Santos dormiu fazia os passeios e voltava às noites para o navio para dormir. Caso esteja viajando de outra forma, veja aqui onde se hospedar em Moscou)

A Praça Vermelha, a Catedral de São Basílio e o Kremlin

Fachada da Catedral de São Basílio

Fachada da Catedral de São Basílio

Ficamos dois dias em Moscou. Na cidade, não tem como não se quedar estupefato com a Praça Vermelha e a catedral de São Basílio, cartão postal do País.  A catedral é maravilhosa pelas cores e o brilho das abóbadas ao sol. Não nos cansamos de olhar e de nos impressionar pela sua grandiosidade e quantidade de detalhes “inalcançáveis”. A única coisa a fazer é deixar “cair o queixo” e dizer: meu Deus, obrigada!!!
Conjunto de prédios, com pessoas andando

Espaço aberto a visitas no interior do Kremlin

O Kremlin, que significa fortaleza, também é imponente pelas suas construções como a Casa do Senado, onde o presidente Putin despacha, o Parlamento e algumas catedrais, a maioria ortodoxa, que hoje viraram museus. Um dos legados do bolchevismo é o ateísmo de mais de 40% da população e as igrejas, que são pontos turísticos para visitação e não de celebração.  
Moça em frente a prédio amarelho

Palácio do Senado, onde o presidente Vladimir Putin despacha

 
Torre na cor vermelha, com detalhes em branco e turistas na frente

Torre do Salvador, a mais importante das 20 torres do Kremlim, com 4 relógios

As luzes de Moscou

Rua com luzes em Moscou

Rua iluminada de Moscou

Um passeio à noite por Moscou é obrigatório. Os franceses, que entendem de “luz”, foram contratados e fizeram uma iluminação maravilhosa na cidade, onde podemos ver a própria catedral de São Basílio toda iluminada – um espetáculo ainda maior – ruas, monumentos e prédios dão um ar constante de “Natal” e alegria. O presidente da Rússia, Vladimir Putin, pode esconder muita coisa, mas está deixando a Rússia mais clara, moderna e alegre para os visitantes que, também, não veem sujeira nem mendigos. Perguntei aos guias onde eles estariam e me responderam que existem várias casas de abrigo e os pobres não ficam na rua. Morreriam todos de frio, pois o verão russo dura apenas quatro meses (de maio a agosto). Depois, vem o frio de até menos 30 graus, que congela os rios e lagos com uma espessa camada de neve de até 1 metro de altura, impedindo a navegação. Nessa época,a noite cai misturando-se ao dia por cerca de oito meses.

Teatro Bolshoi e Stanilavski

Pudemos perceber, também, todo o apreço do povo russo pelo teatro, com vários espaços antigos ainda em funcionamento e monumentos em homenagem a Constantin Stanislavski, o “pai” do teatro russo. Outra personalidade russa muito venerada com esculturas, nomes de ruas e restaurantes é Pushkin, considerado o maior poeta russo da época romântica.
Cruzeiro na Rússia: mulher posa em frente a fonte de água e construção clássica com colunas, que é o Teatro Bolshoi, em Moscou

Teatro Bolshoi: foto de fora, pois o ingresso não deu para comprar na hora

A arquitetura do Teatro de Bolshoi é um deslumbre, e aqui cabe outra dica: se quiser ir em algum espetáculo na Rússia é melhor comprar os ingressos no Brasil. Deixamos para comprar em Moscou e em São Petersburgo, como orientou a agência de viagem, mas não conseguimos.

Revolução russa

Apesar de não gostarem muito de falar sobre o período bolchevique, na praça em frente ao Teatro Bolshoi, está uma imponente estátua de Karl Marx, mas não nos foi mostrado nenhum monumento de Lênin nem Stalin. Perguntei a uma guia em São Petersburgo porque não falavam dessa época: ela me disse que foi muito sangrenta e talvez não tenha tanto “interesse” como as outras atrações do país.

Estátua de Karl Marx

Se acham que “não têm muitas coisas para falar sobre o bolchevismo”, que de fato foi um período muito violento,  o certo é que a revolução russa contribuiu muito para reduzir o analfabetismo de 99% da população, implantando vários programas educacionais e deixando um legado atual para o país, que ostenta um dos mais baixos índices de analfabetismo do mundo.

Cruzeiro pela Rússia: navegação até São Petersburgo

Gaivotas se fartam com os peixes perto das eclusas

Durante o cruzeiro pela Rússia, no caminho até São Petersburgo, em direção ao Noroeste da Rússia, visitamos algumas ilhas na região da Karellia. Esta região detém os dois maiores lagos da Europa, o Onega e o Ladoga. Achei mesmo que estava em alto mar. Não se vislumbra a margem por quase um dia inteiro de navegação, outro espetáculo à parte para quem viaja de navio pela Rússia. Impressionam também as eclusas em profusão, usadas para corrigir o nível da água, onde muitas gaivotas nos surpreendem tentando pegar os peixes que vão aparecendo com o enchimento do canal ….lindo também!

Uglich e Iaroslavl

 
Catedral branca com diversas cúpulas douradas

Principal catedral de Iaroslav

Passamos por Uglich e Iaroslavl, com suas histórias antigas de reis e rainhas e catedrais de abóbadas infinitas. Muitas delas também viraram museus e podemos ver em seu interior as pinturas do que eles chamam de ícones da religião ortodoxa e toda Paixão de Cristo. São inúmeros afrescos pintados nas paredes contando a vida de Moisés, João Batista, Jesus Cristo, Nossa Senhora.  Pela quantidade, fica até difícil distinguir a história de cada um, tamanha a riqueza de detalhes!
Painel de igreja todo em dourado com vário desenhos de santos

Painel de igreja com ricos afrescos

Moça e paisagem com rio atrás

Vista em Iaroslavl

Até chegar a São Petersburgo, a cidade mais linda da Rússia, pelo menos num comparativo com tudo que vi, fizemos um piquenique numa das ilhas da Karellia e pudemos apreciar a igreja da ilha de Kizhi.
Abóbada de uma catedral com várias cúpulas na cor pérola

Catedral de Kizhi

Ela é considerada uma das maiores estruturas de madeira do planeta, com 22 abóbadas e 37 metros de altura. Sua abóbada é em formato de escama de peixe feita da madeira do álamo, fácil de trabalhar e muito maleável, outra atração de cair o queixo. Leia também Viagem à Rússia: encantos de São Petersburgo e Moscou

Cruzeiro pela Rússia: São Petersburgo

Se for à Rússia não deixe nunca de ir a São Petersburgo. Outra dica é: assista antes alguns filmes ou séries sobre os Romanovs, que governaram a Rússia por cerca de 300 anos, e têm entre as celebridades Pedro, o grande, e Catharina, a grande. Você poderá aproveitar muito mais as explicações dos guias e entender melhor como viviam os reis e rainhas dessa dinastia, a ostentação de seus castelos e sua contribuição para a cultura, e, agora, para o turismo russo.
Barco passeando por canais, ponte de aço e construções antigas

Passeio pelos canais de São Petersburgo

Cortada por canais e pontes, a também chamada “Veneza russa” São Petersburgo é deslumbrante de dia e à noite. Ela também é mais colorida do que Moscou, com prédios totalmente preservados nas cores vermelho, amarelo, azul e branco. Tais construções serviam para moradia da elite e negociadores que viviam ao redor dos Romanov. Muitas dessas edificações se transformaram em museus, teatros e universidades.
Várias pessoas em barco percorrendo canal e prédios antigos

Turistas admiram arquitetura de São Petersburgo, a partir do canal

Para apreciar melhor a arquitetura, a dica é pegar um passeio de barco pelos vários canais, onde poderá ver também as famosas pontes russas, que em vez de lembrarem Veneza, lembram mais Paris. Uma atração, a partir das 2h da madrugada, é vê-las se abrindo para a passagem das grandes embarcações, o que acontece até as 5h da manhã.
Vários pessoas à beira de um canal observam uma eclusa abrir

Abertura de eclusa à noite em São Petersburgo

Museu Hermitage

Deixe grande parte do seu tempo para visitar o Museu Hermitage, que reúne a maior coleção de pinturas do mundo. É um luxo só, com suas paredes, portas, janelas, detalhes em ouro, esculturas, mosaicos romanos no chão e nos móveis. 
Fachada do Museu Hermitage à noite, em Moscou

Fachada do Museu Hermitage (Deposit Photos)

Chamam atenção as galerias romanas, como a cópia da que foi pintada por Rafael no Vaticano, e as salas com esculturas e quadros espanhóis. O térreo guarda grandes tumbas e esculturas do Egito. Veja onde se hospedar em São Petersburgo.

Peterhof, os ricos palácios de verão

Os palácios de verão de Catarina e Pedro (Peterhof) são também um grande museu, com imensas salas ornadas por detalhes em ouro, esculturas, pinturas, mosaicos e todo o luxo em que vivia a “corte” dos Romanovs.
Castelo nas cores bege e azul

Castelo de Catarina, a Grande

Os jardins dos dois palácios parecem saídos de um “conto de fadas” e as tulipas aqui, também, ocupam um grande espaço nos canteiros em grandes fileiras, embelezando ainda mais o que os olhos já custam a acreditar! Eles contam com charretes, que levam os turistas aos vários pontos do local.
Cruzeiro na Rússia: tulipas em jardim com pessoas andando

Tulipas embelezam os jardins do Peterhof

O destaque do Peterhof são as esculturas banhadas em ouro que ornamentam a escadaria em frente ao palácio, e a Grande Cascata, que se estende até o mar Báltico, o qual faz divisa com a Finlândia.
Fonte com escultura de ouro no centro e ao fundo gramado com uma constru~ção

Centenas de pessoas visitam o Castelo de Pedro todos os dias

Aliás, se quiser conhecer também a Finlândia, um trem leva até Helsinque em apenas 4h30. Muito fácil né! Mas esse passeio ficou para uma próxima vez, por hora, já estávamos repletos de tanta história! Eu recomendo!!!
Palacio rosa com escadarias douradas

Escadarias com esculturas banhadas em ouro são a grande atração do Palácio de Pedro

Veja no vídeo como foi a exibição das fontes de água no Peterhof. As águas entram em um canal que deságua no Mar Báltico.

Grupo de viagem

Este é o nosso grupo de viagem. Ficamos muito unidos durante o passeio e alguns acabaram criando laços. Esta foto foi tirada em um píer em frente pelo Mar Báltico.
Grupo de viajantes posam para foto oficial

Foto oficial do grupo de viagem, no Castelo de Peterhof, à beira do Mar Báltico (Arquivo pessoal)

Autora convidada

Mônica Santos é jornalista, tem uma filha linda, adora viajar, conhecer a cultura e os costumes de outros países. Já são 14 visitados, inclusive sozinha. Seu preferido é a Itália, onde diz ter se emocionado com tudo. Indica também Moscou, Praga e Berlim, para quem gosta de coisas muito diferentes. A Rússia, para Mônica, foi uma surpresa. Ela esperava um país cinza, construções pesadas e um clima triste. Encontrou um país ensolarado, palácios e igrejas de fazer cair o queixo.