Patricia Lamounier – Conheci Bichinho ainda pequenino. Era um vilarejo de estrada de terra, com algumas lojinhas e sítios nos arredores. Bichinho cresceu e ainda continua encantando. Hoje, tem calçamento de pedra, posto de gasolina e boas pousadas. O comércio foi incrementado e a cidade virou referência de comerciantes e lojistas, por causa do artesanato de excelente qualidade.
Bichinho é o apelido de Vitoriano Veloso. Pertenceu a Tiradentes outrora, mas hoje é distrito de Prados. Sua população é de 1 mil habitantes aproximadamente. Este lugar tão delicioso é caracterizado por uma longa rua e poucas secundárias, permeadas por sequências de casas novas e antigas (ateliês, residências, oficinas e lojas) em estilo rústico por causa do uso do adobe em suas construções (processo artesanal onde os tijolos são feitos de terra crua, água e palha).
Bichinho abriga trechos da Estrada Real e faz parte do Circuito Turístico Trilha dos Inconfidentes.
Como chegar
Bichinho está localizado estrategicamente entre Prados e Tiradentes. O vilarejo fica a 8 km de Tiradentes, 12 km de Prados, 22 km de São João Del Rei, 198 km de Belo Horizonte, 377 km do Rio e 538 km de SP.
Uma vez em Tiradentes é só pegar a Rua dos Inconfidentes e seguir por ela: uma estradinha de calçamento de pedras com placas indicativas. Não tem como errar!
Ir por Prados, apesar das placas indicativas que facilitam o trajeto, achei um pouco mais complicado. São 12 km de estrada ruim.
Um pouco da história
Bichinho, como é conhecido por todos, tem sua origem no século XVIII, com a descoberta de lavras de ouro em áreas vizinhas. A exploração aurífera na região devia ser importante, pois congregou pessoas que decidiram fixar pouso e construir um vilarejo. Juntamente com a construção das casas, foi erguida uma pequena igrejinha que levou o nome de Igreja de Nossa Senhora da Penha.
Em 1894, o arraial passou a chamar Vitoriano Veloso, homenageando o Alferes Vitoriano Gonçalves Veloso que nasceu e viveu na região. O mesmo trabalhou como alfaiate após ter sido alforriado. Foi condenado pela Coroa por estar envolvido no movimento separatista da Inconfidência Mineira em 1789.
Até a década de 90, este pacato povoado viveu basicamente da agricultura e pecuária, mas sempre teve “veia” de artesanato para fabricar esteiras de taquara e adornos para ourivesaria.
Em 1991, os artistas plásticos e irmãos Antônio Carlos Bech (Toti) e Sônia Bech Vitaliano, se mudaram para o distrito e passaram a ensinar os artesãos locais a criar objetos de arte. Uma grande mudança no artesanato aconteceu devido à preocupação ecológica e comunitária de Toti e Sônia. Surgiu daí a Oficina de Agosto.
A Oficina de Agosto foi criada juntamente com um grupo de artesãos locais para produzir arte coletiva diferenciada através de materiais reciclados encontrados na região.
As pinturas e peças criadas pelos artesãos são feitas com material de demolição, madeira, ferro e latas. A criatividade, a simplicidade e o bom gosto chamam a atenção dos turistas!
Onde ficar
Neste distrito o que não faltam são pousadas! Elas são simples, mimosas, com lindos jardins e café da manhã ao estilo mineiro: paninhos brancos bordados e engomados aparando rosquinhas, broinhas, bolos, geleias, queijo, pão de queijo, sucos e café fresquinho! Não se admire se der vontade de ficar sentado à mesa do café por quase uma eternidade!
Da última vez em que estive em Bichinho, fui de ônibus fretado com minhas amigas caminhantes da Estrada Real. Tivemos de dividir a turma em 3 pousadas e todas nos atenderam muito bem! Foram elas:
Pouso do Bichinho 1: Rua Prados 172, Está localizada dentro de um terreno de 1500o m2, com pomar e galos cantantes. Os quartos são lindos! Contato: (32) 3353-7127
Pouso do Bichinho 2: Rua Silvério Jaques, 606. Uma delícia de local e está bem pertinho das lojas de artesanato. O café da manhã é super gostoso!!! Contato: (32) 3353-7220
Cipó Artes: Está localizada em uma área de muito verde, com lago e estacionamento privativo. É muito charmosa. Contato: (32) 3353-7073
Andando pelo vilarejo, encontrei ainda a Pousada Canto do Bichinho. Contato: (32) 3353-7002
Ao fazer o trajeto para a Serra de São José, conheci a Pousada Recanto dos Anjos. Esta, não fica exatamente dentro da cidade, mas é um espaço que oferece a seus hospedes tranquilidade de uma chácara em meio a natureza. Contato: (32) 3355-1540
Onde comer
O restaurante mais indicado por todos da cidade é o Tempero da Ângela. Comida mineira, boa, barata, e sabor bem caseiro e que funciona com um preço buffet. Paga-se um valor e serve-se à vontade!
O Restaurante Pau de Angu fica perto do Museu do Automóvel, na estrada entre Bichinho e Tiradentes. Foi indicado pelo Guia 4 Rodas. Não é um restaurante barato.
Já eram quase 15h quando resolvi almoçar. Estava esfomeada, mas queria somente um lanche rápido, sem frituras. Uma salada era o que eu precisava! Consegui encontrar no restaurante do João, o Casa de Mineiro. Uma salada simples, gostosa e num preço justo!
6 COISAS PARA FAZER EM BICHINHO
1 – Visitar o comércio local, oficinas e ateliês
Bichinho é uma cidadezinha recheada por ateliês e lojas de artesanatos de muito bom gosto. Encontra-se de tudo um pouco para casa. Tapetes, almofadas, cortinas, enfeites, toalhas, móveis feitos de madeira de demolição e ferro! Tudo lindo e alguns a preços bem convidativos! Um verdadeiro paraíso para quem é apaixonado por artesanato!
Os ateliês encantam pela simplicidade e pela receptividade com que os proprietários recebem os turistas. No Ateliê do Amilton pode-se encontrar o mais tradicional da arte de entalhe em madeira, com influência barroca! De tirar o folego!
Já no Ateliê do Fábio, o papel machê predomina e a Casinha de Adobe, de Lena e Mizinho, vende artesanato feito com madeira de demolição e ferro.
A Casa das Casinhas é ateliê e lar do casal Juliano e Adriana, onde os artistas produzem casinhas super coloridas com temas do cotidiano!
A Oficina de Agosto, é a mais antiga de Bichinho e onde todo o processo de recuperação e diversificação do artesanato da região começou.
Não deixem de visitar as lojas O Bicho da Terra, Cida Guimarães, Minas Arte e Trem Mineiro.
2- Conhecer o Museu do Automóvel da Estrada Real
“Tão importante quanto construí-los, é conservá-los”! Esta é a frase de abertura do site do Museu do Automóvel da Estrada Real, localizado quase que na entrada de Bichinho, no Sítio Pau d’Angu.
O museu é interessante e indicado para colecionadores e apaixonados por carros, principalmente antigos! Lindos de se ver! Quase todos estão catalogados. A coleção pertence a Rodrigo Cerqueira Moura que compra e restaura carros antigos desde 1976.
O museu foi aberto em 2006. Conta com um acervo de aproximadamente 70 carros e motos antigas, dispostos em 2 galpões. Abre de quarta a domingo de 9h às 18h. Maiores informações: contato@museudoautomoveler.com.br
3 – Rezar na Igreja Nossa Senhora da Penha
A igreja teve o início de sua construção em 1732 e conclusão em 1771. As torres foram construídas posteriormente, já no século XX. Quem conhece por fora a simplicidade de sua fachada, não imagina a delicadeza que é seu interior.
As pinturas são em estilo rococó. A ornamentação, principalmente dos forros e púlpitos, é atribuída a Manoel Victor de Jesus. Em 1949, a igreja foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
A festa de Nossa Senhora da Penha acontece todo mês de setembro com barraquinhas e banda.
4 – Divertir-se na Casa Torta
É até difícil não parar para fotografar esta casa ou estas duas casas tortas, tortíssimas e coloridas, bem na rua principal. A proposta desta casa esquisita é ser um local lúdico para estimular a criatividade e imaginação de crianças e adultos por meio de várias atividades e jogos.
No local funciona um café, uma lojinha e um teatro. Abre de quarta a sexta de 13h às 18h30. Sábados, domingos e feriados de 10h às 18h30.
5 – Conhecer os alambiques
A região do Campo das Vertentes produz excelentes cachaças. Entretanto, devido ao alto custo dos impostos e exigências para manter um alambique, muitos produtores continuam na informalidade.
Existem três famosas alambicarias artesanais em Bichinhos: Tabaroa, Mazuma e Velho Ferreira.
A tiragem da Tabaroa é bem pequena. De acordo com o produtor, esta cachaça quer primar pela qualidade, através de uma produção de excelência. É produzida desde 1987 e foi eleita uma das 50 melhores do Brasil. Uma charmosa loja (foto acima) vende exemplares da cachaça.
Já a Mazuma, surgiu quando o casal Fábio e Sandra fizeram um curso de Mestre Alambiqueiro. O aroma instigou a vontade de produzir a própria cachaça. Após um passeio por Bichinho, nasceu a Mazuma. O alambique tem como proposta mostrar ao visitante todo o processo produtivo da cachaça, desde o plantio até o armazenamento nos diversos tipos de barris e tonéis.
As placas indicativas para chegar ao alambique Velho Ferreira estão perto da Igreja Nossa Senhora da Penha. De acordo com as diretrizes deste alambique a Velho Ferreira é a expressão viva de um produto de três gerações!!! A história de ter um alambique veio do sonho de Vicente Ferreira Rodrigues, distribuidor da região nos anos 30 e 40. Antônio Ferreira Neto compartilhou o sonho e vontade do pai. Mas foi somente em 1997, por meio de Cláudio Ferreira da Silva Filho – o neto –, que a cachaçaria “Velho Ferreira” foi oficialmente fundada.
6 – Caminhar pela Estrada Parque Passos dos Fundadores
Conheci esta estrada como “estrada que margeia a Serra de São José”. Mas ela é bem mais que isto! São 10 km de terra batida e cascalho que podem ser percorridos a pé, de moto, carro 4×4 ou tração ou de bicicleta.
Esta estrada que liga Tiradentes a Prados é tortuosa e tem subidas bem íngremes. Parte desta extensão margeia a Serra de São José. Uma muralha maravilhosa!
O caminho passa pelo Refúgio das Libélulas (ou borboletas) que entre os meses de março a outubro chegam à serra aos milhares. Lindas de se ver!
Percorri parte deste trajeto a pé. Foram quase 3h30 de caminhada até chegar à Biquinha. As subidas são bem puxadas e não tem apoio, caso precise.
Meu quadril já estava reclamando devido à bursite, quando uma alma bondosa passou de moto por lá e me deu uma carona para terminar de subir o morro. Foi minha “salvação”, até o apoio chegar!!! (rsrsr ) Mas quando chegou, foi tudo de bom: Picnic! Sucos, água da bica, frutas e biscoitos produzidos em Bichinho! Tudo de bom!
comentários