Marlyana Tavares – Há muito o que fazer em Santiago, além de um pit stop antes ou depois de uma temporada nos resorts de neve chilenos. Em um roteiro de 7 dias na capital e arredores (veja em outro post), há bastante tempo para descobrir os encantos de uma cidade com ares europeus e um forte sentimento político. Excelente destino para ir com a família, em casal, com as amigas ou até mesmo (e porque não), em viagem sola.

Parques, praças, ruas bem cuidadas e a visão da Cordilheira dos Andes sempre coberta de neve em grande parte do ano. Edifícios modernos e um Centro histórico muito interessante, a começar pelo Palacio La Moneda, ponto de conflitos sangrentos que assolaram o Chile na derrubada do governo Allende e ascenção da ditadura.

Há também que visitar mercados de artesanato, com o melhor da expressão indígena. E nos arredores, muito a fazer em passeios a vinícolas e pequenas excursões às vizinhas Viña del Mar e Valparaíso, em bate-voltas ou pernoites. Eu fiz também um programa para apaixonados por Neruda: fui à Isla Negra, último refúgio do poeta, a pouco mais de uma hora de Santiago. 

*Foto: Monumento a Los Perros, no Cerro Santa Lucía, em homenagem aos cães de rua de Santiago, que somam cerca de 1 milhão, na base de 1 cão para cada 4 habitantes (Foto: Marlyana Tavares)

O que fazer em Santiago e como circular por lá

Para um roteiro de uma semana – foi este o tempo que fiquei por lá –, ou um pouquinho mais, Santiago e seus arredores têm programas de sobra. Só andar pela cidade, saboreando suas largas avenidas ao estilo europeu, parques, praças e cafés, principalmente nos bairros Providencia e Las Condes, já é um roteiro de um dia.

Visitar o Centro e o Mercado preenche outro dia facinho. A ida a Los Domenicos no domingo deve ser sem hora para voltar. Se escolher ir a Isla Negra, Valle Nevado, Vinã del Mar e Valparaíso, são passeios para um dia, cada um. São alguns exemplos.

O sistema de transporte público é bem tranquilo. Fiquei hospedada no Bairro Providencia, com duas amigas. Desloquei-me de metrô e táxi, mas amigos que foram a Santiago e andaram de ônibus acharam bom. Atenção: o tráfego fica pesado no final do dia.

Compramos o pacote de uma operadora. Para os passeios aos arredores achamos mais prático tratar com o guia com fez que conosco o city-tour do primeiro dia. Ele arrumou um motorista e uma van e ficaram por nossa conta.

O city-tour do primeiro dia estava incluído no pacote. Por isso, aproveitamos para ter uma visão geral da cidade. Mas vai por mim: pagar um city-tour é totalmente dispensável. Torço para que minhas sugestões a ajude a montar  um roteiro independente, mas você verá que para alguns dos passeios o apoio de uma agência local pode ser necessário e mais prático.

A visita à Concha & Toro, que fizemos em van coletiva/passeio opcional da operadora (conforto e praticidade), também pode ser feita de forma mais independente, pegando metrô e ônibus, como fez a Fernanda Diniz e seu namorado, que acabam de chegar de lá. Pode até demorar um pouco mais pra chegar, mas sai mais em conta e a economia pode ser compensada na compra de um pacote de visita de valor superior.

1 – Palacio de La Moneda

Pessoas assistem à troca de guarda em frente a Palacio La Moneda em um dos programas turísticos que dá pra fazer em Santiago

Palacio de La Moneda e a troca de guarda: na sala da terceira janela à direita foi assassinado Salvador Allende (Foto: Marlyana Tavares)

Clássico dos clássicos, este foi o primeiro ponto de parada do city-tours, mas o legal é ir com mais tempo, para, não só assistir à exibição da guarda chilena, mas também caminhar por ali, observando o ambiente.

Localizado no Centro, na Plaza de la Ciudadania, entre as ruas Moneda, Teatino, Morandé e Avenida Libertador Bernardo O’Higgins, o palácio sede da presidência do Chile é imponente em seu estilo neoclássico e muito bem preservado. Mas guarda a história de uma época de muito sofrimento para o Chile, o golpe militar que depôs e matou Salvador Allende, em 1973.

Durante todo o tempo que fiquei ali pensava na praça de guerra que se tornou aquele lugar com a batalha pela tomada do poder pelos militares e instalação da ditadura do general Pinochet. Allende ficou até o fim em sua sala, na ala direita do prédio, que foi bombardeada pelos militares. Durante muito tempo houve uma discórdia se ele tinha se matado com uma arma presenteada por Fidel Castro ou se tinha sido assassinado. No final, resolveram exumar o corpo e ficou provado que tinha sido morto.

O palácio abriga o Centro Cultural Palacio La Moneda, localizado embaixo da Plaza de la Ciudadanía, e a Cinemateca Nacional, abertos a visitas. No andar superior, dá para passar um tempo descansando em cafés e fazendo comprinhas em lojinhas de artesanato.

A exibição da Guarda Nacional, às 10h, atrai centenas de turistas, sempre de celulares e máquinas em punho, muitas vezes sem desconfiar dessas histórias. Os oficiais tentam ser simpáticos e a banda sempre executa algum clássico brasileiro, como Aquarela do Brasil. Os visitantes agradecem e acompanham, cantando.

2 – Plaza de Armas

Estátua em pedra de um índio sul-americano que segura a própria cabeça mas mãos: o que fazer em Santiago

Monumento ao índio mapuche na Plaza de Armas (Marlyana Tavares)

Como toda capital latino-americana conquistada por espanhóis, Santiago também tem sua Plaza de Armas. Ela reúne os prédios públicos, os símbolos do poder e da religiosidade. Aqui estão a estátua do conquistador Pedro de Valdívia, mas também um monumento bem impressionante, em pedra, de um índio mapuche.

As torres da Catedral de Metropolitana de Santiago, inaugurada em 1775, são refletidas nas fachadas espelhadas de bancos e escritórios financeiros. A catedral é Monumento Nacional e centro de celebração das cerimônias comemorativas mais importantes da cidade. Perto do altar estão enterrados os clérigos mais ilustres e os heróis nacionais.

O interior da catedral em tons de dourado e azul é bem impressionante. Como destaques, um órgão importado de Londres em 1850, o púlpito original, do século 18 e o altar-mor alemão, construído em 1912. É que essa catedral é a quinta – passou por várias reconstruções, depois de acossada por terremotos. A cada reforma ganhava estilos arquitetônicos diferentes até que se tornou neoclássica.

O ambiente a Plaza de Armas é eclético: a população local se mistura com artistas de rua e levas de turistas despejadas de hora em hora pelos ônibus de city-tours, ou aqueles que chegam a pé, de metrô, táxi ou ônibus. Enquanto os santiaguinos tiram uma soneca no banco da praça, visitantes enlouquecidos atrás de guias turísticos não sabem se ouvem dados e fatos ou se procuram o melhor ângulo para fotos.

Estátua de bronze de homem em cima de cavalo e predio antigo

Estátua de Pedro de Valdívia e o Palacio de la Real de la Audiencia (Marlyana Tavares)

Tentei me transportar para o século 16 e imaginar o conquistador Pedro de Valdívia e suas tropas chegando naquela baixada e decidindo que ali fundaria uma cidade, sem imaginar, claro, no que ela se transformaria. Entrei na imponente catedral da pedra, com o teto lindamente decorado, e fiz meus três pedidos.

Na Plaza de Armas fica também o Museu Histórico Nacional., dentro do Palacio de la Real de la Audiencia. Não tive tempo de visitá-lo, porém acho que, com tempo, vale muito percorrê-lo, ainda mais que a entrada é gratuita. No Correo Central, onde viveu Pedro de Valdívia, há um pequeno museu, que pode ser visitado das 9 às 17h. Ficam também na Plaza de Armas a prefeitura de Santiago, a Casa Colorada (uma das últimas construções do século 18 que resistem na cidade), que abriga o Museo de Santiago, e o recomendado Museo Chileno de Arte Precolombiano.

Vale depois passear ao redor da Plaza de Armas, percorrer os paseos Ahumada e Huérfanos (fechados para carros), sentar em um café e observar o passar de gente. O Paseo Ahumada fica entre a Calle Plaza de Armas e Alameda (desça nas estações de metrô Plaza de Armas ou Universidad de Chile), com grande quantidade de lojas. O Paseo Huérfano faz esquina com o Ahumada. Recomendado atenção às bolsas.

Para um lanche ou almoço, há vários restaurantes por ali e as famosas “picadas”, tira-gostos que podem ser verdadeiras refeições a preços módicos. O site biobiochile.cl traz uma lista com 10 melhores picadas santiaguinas, várias delas no Centro.

3-Cerro Santa Lucia

Rapazes vestidos de preto fazem exercícios marciais em parque com árvores, bancos e mais pessoas: o que fazer em santiago

Cerro Santa Lucia: ponto de encontro de santiaguinos e turistas (Marlyana Tavares)

É um dos lugares mais belos da cidade, porque, do mirante, dá para ver como ela é bordada pela Cordilheira dos Andes. É preciso certa disposição para subir escadas e morrinhos, mas você chega lá. A entrada fica na Libertador Bernardo O’Higgins. De metrô, desça na Estação Santa Lucia.

Tem sempre bastante gente, nada que apavore, e dá para perceber que a frequência não é só de turistas. Moradores estão por toda parte, descansando, contemplando, namorando, praticando artes marciais.

Foi no Cerro Santa Lucia que nasceu a história do Chile, quando, em 13 de dezembro de 1541, Pedro de Valdívia fundou Santiago.

Um dos recantos mais bonitos é o Castillo Hidalgo, rodeado por jardins, fontes e terraços. Procure também pelo Arco do Triunfo, Terraço de Netuno, o Antigo Caminho do Ferrocarril, o monumento a Pedro de Valdívia e o Jardim Circular.

Às 12h, tiros de canhão repetem o costume de quando Santiago era ainda uma pequena cidade: a essa hora, se avisava à população que era tempo de almoçar, ir à missa e tocar os sinos das igrejas. Mas não se preocupe, se bater a fome a qualquer momento, há vendedores ambulantes e lanchonetes por lá.

O acesso principal é pela Avenida Alameda, 499, por uma considerável escadaria que sai da Calle Agustinas.

4 – Parque Metropolitano

Dois teleféricos e ao fundo a cidade de Santiago e a Cordiheira dos Andes: o que fazer em santiago

Subida de teleférico já vai dando uma visão geral da cidade e da cordilheira(Deposit photos)

Imagem de santa em escultura branca e o céu azul com nuvens brancas

Estátua da Virgem Imaculada no alto do San Cristobal (Deposit Photos)

Importantíssimo para uma cidade acossada pela inversão térmica que impede a dispersão da poluição, um dos grandes problemas urbanos de Santiago. O Parque Metropolitano tem 40% das áreas verdes da capital, com um bosque de 400 hectares, e surpreende saber que ali nada havia antes de 1903. Era tudo seco e sem árvores. A área foi totalmente reflorestada com espécies nativas levadas de regiões de todo o País.

É lá que estão os Cerros San Cristóbal, Pirámide, Chacarrillas y Bosque de Santiago. Há um teleférico com dois carros, sustentado por 12 torres, que se eleva a 2.030 metros do solo. “É maravilhoso, emocionante”, testemunha Fernanda Diniz, que acaba de voltar de Santiago. “À medida que vai subindo, a vista da cidade vai ficando mais linda”.

Também dá para subir de funicular, que vai parando nos determinados níveis, até chegar no alto do Cerro San Cristóbal, com parada no Zoológico Nacional. Para quem tem mais tempo ou gosta de se exercitar, ir caminhando ou de bike também é uma boa. Tem duas piscinas lá dentro: a Tupahue é a mais disputada. E um jardim japonês.

No topo, aguarda a estátua da Virgem Imaculada Conceição, com 15m de altura, local de grande devoção para muitos. Programe passar boa parte do dia, pois você vai querer parar em vários pontos e até fazer um piquenique, enquanto olha a paisagem.

No Restaurante Camino Real você conhece um pouco da história do vinho, enquanto no Restaurante do Divertimento, a atração são os belos jardins.

5 –Bairro Bellavista

Muro colorido de azulejos com dizeres Patio Bellavista, estátua, mesas com sombrinhas, árvores com flores roxas: o que fazer em Santiago

Patio Bellavista: complexo de bares, restaurantes e lojas (Deposit Photos)

Bem próximo à Plaza Italia, o Bellavista era um bairro de operários nos anos 1900, mas depois de um banho de loja virou um mimo. Cheio de casas coloridas, bares, restaurantes de comida nacional e internacional, casas de shows e lojas, é o lugar da “night” badalada.

Sugestão: reserve a parte da tarde para visitar, por exemplo, a Casa Museu La Chascona, uma das três residências do poeta Pablo Neruda transformadas em museus (as outras estão em Valparaíso e Isla Negra). Há várias coleções de Neruda, uma pinacoteca com obras de pintores chilenos e de outros países, além de entalhes africanos em madeira.

No Bellavista estão também teatros afamados como o San Ginés, o Centro Morí e o Bellavista.

Três colunas de pedra e uma casa em azul e branco ao fundo: o que fazer em Santiago

La Chascona: casa do poeta Pablo Neruda em Santiago (Wikimedia commons)

Depois, vale uma visita ao Pátio Bellavista, onde há lojinhas com artesanato chileno, restaurantes, etc., e dali partir para um dos endereços da noite santiaguina. Um dos mais conhecidos restaurantes, é o Como Água para Chocolate. É bom fazer reserva. Mas há outros bares e restaurantes menos famosos que vão agradar também. De tardinha, já começam a colocar as mesas e cadeiras nas calçadas, à espera dos fregueses que para ali vão “tirar la talla”, expressão que para nós significaria “tomar uma com os amigos”.

6 –Pueblo los Dominicos

Moça anda em frente a varias casinhas

Cada casinha dessas é uma lojinha. Ainda era bem cedo (Marlyana Tavares)

Banda de senhores mais velhos tocando e ao fundo a cordilheira nevada

Uma banda nos surpreendeu alegremente (Marlyana Tavares)

Três mulheres lanchando

A pausa para comer empanada com suco era tudo que precisávamos (Marlyana Tavares)

Um dos lugares que mais gostamos de ter ido em Santiago. Uma surpresa para as primas Cynthia e Rogerlan, que me acompanhavam. Tinha ficado sabendo do local por uma moradora antiga e muito querida de Santiago.

Foi uma manhã muito, muito gostosa. O domingo estava generoso, sol quentinho e um céu claríssimo de um azul estonteante. Pegamos o metrô em direção a Los Domenicos e descemos na Estação Pedro de Valdívia.

Andando um pouquinho, logo se chega ao local, que é uma réplica de uma pequena aldeia indígena. Fica ao lado da Iglesia de Los Dominicos. Cheia de lojinhas (tiendas) eu considero o melhor e mais original lugar para comprar artesanato.

Vá sem hora para voltar. Nas lojas (são 160), há desde belas e diferentes camisetas até jóias de design moderno com a famosa pedra azul do Chile, o lápis-lazuli (que só existe também no Afeganistão).

Há peças trabalhadas e mais caras mas também anéis, pulseirinhas, cerâmicas, artigos em couro, bolsinhas em tecidos bordados, enfeites de cobre, uma variedade imensa. Tem que segurar a carteira, porque a vontade é de sair comprando.

Percorra primeiro tudo, depois pare para tomar um suco com empanada de queijo (recomendo demais) e volte naquelas lojas que você mais gostou. Enquanto come ou passeia, você conversa com os lojistas e artesãos e pode até ser surpreendido por apresentações artísticas. Delícia de lugar.

Pueblo Los Dominicos fica na Avenida Apoquindo, 9.085, em Los Dominicos. Abre todos os dias.

7 – Mercado Central

Centolla, caranguejo gigante

Centolla: a carne desse bichão aí é gostosa mas a conta no Mercado Central é salgada (Marlyana Tavares)

Tem jeito de ir a alguma cidade e não visitar o seu mercado? Tem, mas você perderá uma ótima oportunidade de entrar em contato com a genuinidade local. E o Mercado Central de Santiago é um bom exemplo disso.

Na arquitetura, o que encanta é a estrutura de ferro galvanizado, fabricada na Inglaterra, e montada em Santiago. O mercado foi inaugurado em 1872 e fica em Ismael Valdés Vergara, entre as ruas 21 de Mayo e Paeo Duente, na área central da cidade.

Ele surgiu para abrigar os vendedores que ficavam na Plaza de Armas. Por ser considerado uma das construções mais belas da época, o prédio foi cogitado para abrigar um museu de arte mas acabou dando lugar mesmo a um mercado. Quando a gente entra lá já sente o cheiro de pescado, afinal, há várias bancas vendendo os produtos do dia, fresquinhos e coloridos.

Ali você degusta a gastronomia típica chilena, especialmente as baseadas nos produtos marinhos, as chamadas marisquerias. Tem que tomar cuidado com aqueles onde se vê muitos turistas comendo. A conta, depois de comer um prato de centolla (aquele caranguejo gigante) pode surpreender. A diversão fica por conta dos garçons, que tentam ao máximo fazer gracinha com os clientes e são interativos – convidam os clientes a destrinchar o bicho na mesa.

Arredores de Santiago

Duas mulheres mostram placa escrito Valle Nevado

Eu e a amiga Rogerlan em Valle Nevado

Com 7 dias de estada na capital chilena é legal pensar em visitar arredores na região metropolitana e cidades vizinhas como Viña del Mar e Valparaíso. A visita à Concha y Toro, por exemplo, dura cerca de 1 tarde, dependendo do programa que você escolher.

Chegar até lá demora cerca de 1h30, dependendo do transporte escolhido. Apesar de poder comprar um passeio junto a agências locais ou até mesmo na operadora que a levou a Santiago, é super viável e mais barato ir de forma independente.

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Para ir a Viña e Valparaíso dá para programar um dia também, podendo ser por excursão ou facilmente por conta própria. Para as estações de Valle Nevado, Farellones e Colorado, acho legal contratar uma agência de receptivo local, porque os acessos são complicados. A cidade mais distante de Santiago para onde fui, porque queria muito conhecer, foi Isla Negra, a casa onde Pablo Neruda passou seus últimos dias.