Marlyana Tavares – Há várias possibilidades de ir à Casapueblo, casa-escultura construída pelo multi-artista uruguaio Carlos Vilaró, a partir de Punta del Este. De excursão em vans, de carro alugado, de ônibus e até de bicicleta você chega até lá. Porém, acima de cinquentinha, as opções ficam mesmo nas duas primeiras. Pela comodidade, para ganhar tempo e passar mais horas no destino.

A 15 quilômetros do Centro de Punta del Este, em Punta Ballena, a Casapueblo é um lugar tão especial, mas tão especial que se tornou um dos pontos turísticos mais importantes do Uruguai.

Vilaró foi artista plástico, pintor, escultor e muralista. Sua história de vida está totalmente moldada em Casapueblo que, além da arquitetura singular, única no mundo, contém um museu espetacular. A estrutura é toda aberta, com terraços de onde se têm vistas estupendas do oceano. No acervo, obras de 50 anos de carreira do artista, morto em 2014, e de amigos, como Pablo Picasso. 

Como ir à Casapueblo

Conheci Casapueblo a partir de uma excursão que peguei em Punta del Este, pois estava em um cruzeiro. Contratamos esta excursão no porto, para um city tour. A casa fica a 15 quilômetros do Centro de Punta del Este, em Punta Ballena. 

Desde que contratei o cruzeiro e soube que passaria por Punta del Este quis muito ir à Casapueblo. Conhecia a história de seu fundador e admirava seu trabalho. Foi o ponto alto da passagem pelo balneário uruguaio.

Além de vans, podem-se alugar carros em locadoras, o que é a melhor opção, de acordo com vários relatos que li em blogs, sites de viagem e comentários de viajantes. Achei interessante para uma próxima vez, porque você faz a visita no seu tempo.  

A vantagem do ônibus municipal é o preço, cerca de US$ 1. Para por aí, a meu ver. Você precisa ir até o Terminal Rodoviário, que fica em Playa Brava, parada 1, no início da península, em frente ao Monumento a Los Dedos. O ônibus te deixa a 40 minutos de caminhada até lá. Hein????

A volta também é meio sofrida. Não há pontos de parada definidos, muitos ônibus nem sequer param. Enfim, você acaba ficando refém de carona ou vai ter que andar mais para achar um ponto. Achei roubada total e não animaria mas o pessoal do Mãos de Vaca fez a experiência.

Há quem prefira alugar bikes, mas é bom saber que há subidas e descidas: a Casapueblo fica numa pequena colina. Gente, van ou alugar um carro está de bom tamanho, né?

Melhor hora

O horário mais procurado é do meio da tarde pra frente, culminando com o pôr-do-sol, quando é lido o final de um poema de Vilaró, intitulado Ceremonia del Sol. Dizem que é maravilhoso. Vi em fotos. Não tive a sorte de testemunhar este momento, pois como estava em cruzeiro tinha hora para voltar ao navio (esta é uma das desvantagens de um cruzeiro!). Mais um motivo para voltar.

Museu Taller-Casapueblo

Vilaró era um artista magnífico, maravilhado com as expressões culturais populares, como o candombe uruguaio e as manifestações africanas. Mas não só. Esculpia, pintava, construía, escrevia. Grande parte dessa obra pode ser apreciada no Museu Taller-Casapueblo.

Visitado por 60 mil pessoas/ano, e aberto todos os dias, das 10h até o pôr do sol, é uma das principais atrações de Punta del Este. A  entrada custa 240 pesos uruguaios.

Você passará por uma galeria de arte e quatro salas, que guardam um sem número de obras de Vilaró e outros artistas. Na Taberna del Rayo Verde, café literário onde se pode fazer um lanche rápido, pegue sua xícara, arraste uma cadeira e vá para o terraço para mirar as ondas do mar.

Antes de tudo, vale se deter 20 minutinhos para assistir o filme sobre a vida do artista, pois você apreenderá melhor suas obras.

Picasso

Em uma das salas, a Nicolas Guillén, há os primeiros óleos de seus 50 anos de carreiras, assim como pincéis e tintas, cerâmicas presenteadas pelo amigo Picasso, lanças e máscaras africanas, fotos que registram o encontro dos dois gênios e de muitos outros amigos.

O museu, terraço, café e restaurante são as áreas abertas ao público. A Casapueblo abriga ainda um hotel, o Club Hotel Casapueblo, com 72 apartamentos, nenhum igual a outro, com terraços voltados ao mar e piscinas.

Forno de pão

Vista por fora e por dentro, a Casapueblo é espetacular. Nada é reto. Tudo ondula. Não há esquinas, não há cantos. Há curvas e recantos. Por dentro, colunas brancas recortam as salas de exposição de nichos como o da sereia servem para descuidados descansos.

A construção foi se dando em torno de uma casa de lata, que o artista ia cobrindo de telas e barro por cima, pintando tudo de branco. Era sua “escultura habitável”, como a chamou. Seu barco “quieto, trampolim para partir, e ao que sempre regressou”.

Ele queria remeter ao Mediterrâneo. Desenhada sobre altos e baixos do terreno como a saudar o movimento das ondas, branca como as brancas espumas do Pacífico, Casapueblo encanta.

O desenho também segue o conceito de forno de pão. Vilaró queria homenager o forneiro e pensava também no homem do campo, que recorre à técnica simples do adobe para levantar sua habitação.

Habitante do mundo, viveu na Europa, nos Estados Unidos, na África e no Brasil. Partiu sempre e sempre voltou. Morreu em Casapueblo em 24 de fevereiro de 2014. Pintou até o último dia da vida.  

Tragédia e superação

Vilaró foi pai de um dos sobreviventes de um famoso acidente com a equipe de rúgbi Old Christians, do Colégio Stella Maris, de Montevidéu, em 1972 .

O avião seguia para o Chile quando bateu numa montanha e caiu na cordilheira gelada. A 40 graus abaixo de zero, os sobreviventes tiveram que comer a carne dos amigos mortos. Dos 45 a bordo, 16 se salvaram, entre eles o seu filho, Carlos “Carlitos” Páez Rodríguez, hoje conferencista internacional.

O artista Vilaró fez parte de um grupo que empreendeu uma busca incansável durante 72 dias. Nesta entrevista ele conta como foi. A história foi tema de filme “Vivos” e de livros, entre eles, “Entre Meu Filho e Eu, a Lua”.