Patrícia Lamounier – Venci o percurso de 53 quilômetros da Milford Track, a trilha mais famosa da Nova Zelândia, numa das jornadas mais desafiantes da minha vida.

Apesar de ter treinado em Belo Horizonte e saber que poderia caminhar no meu próprio ritmo, temia que meu corpo sofresse com grandes esforços, especialmente na subida daquela trilha.

Neste post você lerá minhas dicas para enfrentar a trilha descoberta por Quintin MacKinnon, em 1888, e saberá porque o caminho foi tão recompensador.

Verá como desafiar seus limites e medos, o que vai pagar em taxas e acomodação, qual é o melhor momento para ir, e como foi o trajeto, dia a dia, saindo de Queenstown.

Vencer o medo da Milford Track, primeiro desafio

Fiz a Milford Track, a partir de Queenstown, em companhia da amiga Mikki e de um grupo de trekkers. É possível ir por conta própria, mas esta não foi minha escolha: preferi contratar a empresa Ultimate Hikes, que organizou tudo.

Como já tinha feito a inscrição e me comprometido com Miki, minha amiga há 25 anos, lá fui eu: apavorada de não dar conta! E se tivesse de ser resgatada de helicóptero? E se eu caísse e não conseguisse mais me mover? Fiz seguro completo para esta viagem!

Um dia antes de partir de Queenstown para a Milford, houve uma reunião com todos os integrantes do grupo para informar sobre o que devíamos levar nas mochilas, onde dormiríamos, e como seriam os horários e trajetos no nosso dia a dia.

A trilha é sempre visitada do Sul para o Norte, para minimizar o impacto ambiental. Por causa das condições climáticas, o parque só é aberto de novembro a abril e somente 100 pessoas/dia são admitidas: 50 são independentes e sem guia e 50 com o grupo da Ultimate Hikes. É necessário agendamento prévio para acesso ao parque. O valor da taxa é 54 NZ$ /noite.

A caminhada, que começa na cabeceira do lago, exibe rios intocados e despoluídos, pontes suspensas, estrada montanhosa e picos enormes com uma vista de tirar o fôlego! Os visitantes que percorrem esse caminho com um guia levam 5 dias e 4 noites para concluí-la e os demais, chamados de “independentes”, levam 4 dias e 3 noites.

De descobridor a guia

Durante os primeiros anos de utilização deste caminho, o próprio MacKinnon (foto) foi um dos guias. Em seu barco, levava os turistas até a cabeceira do Lake Te Anau e os guiava da MacKinnon Pass até o Lake Ada, de onde outra embarcação os levava até um hotel.

MacKinnon também ficou conhecido por suas pompolonas (pães de forma) e o ensopado de papagaio e pombo que fazia. Com o tempo e a construção de pontes e orlas, a Milford Track foi se tornando mais acessível ao público. No ponto mais alto da trilha fica um monumento de pedras, sob o qual MacKinnon está enterrado.

Taxas e acomodação

A trilha é sempre visitada do Sul para o Norte, para minimizar o impacto ambiental.

Por causa das condições climáticas, o parque só é aberto de novembro a abril e somente 100 pessoas/dia são admitidas: 50 são independentes e sem guia e 50 com o grupo da Ultimate Hikes.

Reservei o passeio com a agência daqui do Brasil, porque não queria pagar o imposto por uso internacional de crédito. Paguei lá, em dinheiro nacional.

É necessário agendamento prévio para acesso ao parque. O valor da taxa é 54 NZ$ /noite.

Existem três cabanas públicas para acomodação dos caminhantes independentes (sem guias). Ali eles dormem e preparam as refeições. Normalmente levam barras de cereais, macarrão e purê de batata instantâneo.

As três pousadas particulares, onde nos hospedamos, são exclusivas para uso da Ultimate Hikes. São pousadas simples, mas confortáveis, com tudo que precisávamos, como se vê na foto.

Não é permitido acampar.

Quando ir

Eu fui no início de novembro de 2016, quando ainda é baixa temporada e os preços são mais baratos (porém é período chuvoso).

O dia perfeito para caminhada é com céu nublado, pouco ou nenhum vento e eventuais raios de sol. A chuva dificulta muito – especialmente na subida e descida da Mackinnon, chegando até mesmo a ser perigoso!

Dezembro, janeiro, fevereiro e meados de março são os meses considerados de alta temporada ou alto verão (tem que tomar cuidado com as borrachudos, são muitos).

Abril volta a ser baixa temporada porque venta muito e o outono já chegou. Depois o parque fecha.

O TRAJETO

1º Dia

Saímos de Queenstown, de ônibus, até a cidade de Te Anau. Depois de um lanche, seguimos para o barco ancorado em Anu Downs, que nos levou até a parte Norte do lago.

Chovia e fazia frio. Muito frio! Durante esta parada, comprei uma calça segunda pele, que eles chamam de layer. Foi meu melhor investimento, pois aquece as pernas!

Na primeira noite, a temperatura baixou para zero! Depois de uma curta caminhada do barco para a pousada, debaixo de chuva, tomamos café e fomos conhecer o entorno, socializar com o grupo e tirar a foto oficial.

Dormimos na Glade House, uma pousada histórica com toda a infraestrutura de restaurante, chuveiros e camas quentinhas, tanques para lavar roupas e quarto de secagem (drying room).

O jantar foi delicioso e farto – três pratos. Às 22h, todos já estavam deitados e os geradores, desligados.

2º Dia

Preparávamos sempre o nosso lanche de trilha antes do café da manhã – 6h30. Por volta das 7h30, logo após o café, tomávamos o caminho em direção a outra pousada. Neste dia seria a Pompolona Lodge.

Foram 13 quilômetros de caminhada. O tempo continuava frio e chuvoso. Usávamos capa de chuva, botas de caminhada e levávamos conosco as mochilas.

Ao longo do dia, a temperatura foi subindo e o tempo abrindo – até que o céu azul apareceu.

A caminhada foi linda mas um pouco exaustiva, devido ao peso da mochila. Os últimos dois quilômetros foram de subida. Nesta noite eu tomei um analgésico depois do jantar.

3º Dia

Chegar à Passagem MacKinnon (1.069m de altitude) depois de caminhar sofridos 16 quilômetros teve sabor de vitória.

Minha amiga Miki não tem problemas para caminhar e anda rápido. Eu não! Foram os os 16 quilômetros mais desgastantes de minha vida! Começando a 200m acima do mar, a trilha sobe em direção à Passagem MacKinnon, a 1.069 metros de altitude.

À medida que me aproximava do topo, a subida se tornava mais íngreme e seguia em ziguezague. Ao todo, foram nove subidas em curvas.

Até hoje não consigo sintetizar internamente o que aconteceu comigo ao chegar ao topo, mas sei que houve um gigantesco clique no coração quando olhei todas aquelas montanhas e picos com neve.

As lágrimas escorriam dos olhos. Foi felicidade invadindo meu corpo, alma e coração. Difícil descrever. Sempre me emociono quando penso naquele momento. Toda dor e todo cansaço! Minha blusa estava encharcada de suor e meu estômago embrulhado de tanto chocolate que comi para ter energia na subida. Ao pararmos para um sanduíche, precisei trocar de blusa.

A descida foi tão íngreme quanto a subida. Precisei muito do cajado. Usei apenas um, mas o ideal são dois, para dar estabilidade: um para cada mão. Nos últimos dois quilômetros minhas pernas já não obedeciam.

Além do bastão, quando eu precisava saltar uma pedra, Miki tinha de me ajudar.

Ao avistarmos a pousada Quintin Lodge, tive um acesso de riso! Lembrei da cena de todos os papas descendo do avião e beijando o solo!

Neste dia tomei uma cartela de Dorflex em menos de 24h e 2 taças de vinho no jantar.

4º dia

Último dia de caminhada e o mais longo de todos – 23 quilômetros! Passamos pela famosa Cachoeira MacKay e paramos para lanchar na Cachoeira Giants Gate, onde existe um paredão de pedras perto de um lago.

Este trajeto é lindo! Com todas as dores e o passo ainda mais lento, Miki e eu fomos as últimas a pegar o barco em Sandfly Point para atravessar o lago Ada até a Pousada Mitre Peak Lodge – famosa pela vista.

O jantar desta noite foi especial e recebemos certificados por concluir a caminhada. Todos os integrantes do grupo foram deitar bem tarde!

5º dia

Acordar e tomar um café sem correria. Que delícia! Depois do café da manhã, saímos para o famoso passeio de barco por Milford Sound. Ver golfinhos e focas além das cachoeiras, num dia perfeito – sem sol e sem vento foi tudo de bom!

Quase três horas de passeio. Ao final, seguimos de ônibus em direção à cidade de Queenstown.

Outra opção para a volta é de helicóptero. Deve ser uma viagem muito interessante pois pode-se conhecer o parque nacional sob uma outra perspectiva. Esta viagem leva somente 45 minutos e custa 550NZ por pessoa.

Como estávamos no ônibus, chegamos em Queenstown no final da tarde, em tempo para um jantar de despedida com alguns dos amigos que fizemos na caminhada.

VAMOS NESSA?

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