Páscoa: vida e fertilidade

Valéria Küng Bittencourt Alves– A origem da palavra vem do hebreu pessach que significa passagem, festa celebrada há mais de 2 mil anos para lembrar o êxodo dos judeus do Egito depois de anos de escravidão. Para os cristãos esta passagem se refere à Ressurreição de Jesus, tendo como símbolo o ovo, que parece frio e morto por fora, mas no interior dá origem à uma nova vida.

Na Idade Média, a Igreja proibia, durante a Quaresma, o consumo de carne e ovos. Como era este o período (início da primavera) da maior produção de ovos, tinha-se o costume de cozinhá-los para sua conservação.

Diz-se que os pequenos arrendatários pagavam os juros a seus senhores no final da Quaresma com seus ovos cozidos; o restante era usado para decoração e ainda os levavam à igreja para serem abençoados e depois oferecidos como presente a familiares e amigos.

Os nobres medievais presenteavam as pessoas especiais e importantes com ovos cravejados de pedras preciosas. Numa outra versão, a tradição de oferecer ovos coloridos às pessoas vem da China.

E o coelho? Na mitologia, Ostara, Deusa da Fertilidade, se alegrava no início da primavera ao ver a  enorme quantidade de coelhos pulando pelos campos, época de sua maior fecundidade. Daí se origina o mito de que são os coelhos, símbolos da fertilidade, que trazem os ovos, símbolos do renascimento.

O costume foi sendo passado às demais culturas do mundo e os ovos cozidos foram substituídos por ovos de madeira, de prata e de ouro, até que no século 18 chegou à sua versão em chocolate, iniciada pelos franceses.

De todas as cores e jeitos

Arvore da Páscoa, onde se penduram os ovinhos coloridos

Morando há quase 30 anos na parte alemã da Suíça, adaptei-me muito rápido com a tradição de se decorar a casa não somente na época do Natal, mas também no Carnaval, Páscoa e durante o outono, onde se celebra a “boa colheita” representada por abóboras dos mais diferentes tamanhos, formas e cores.

Aqui, a Páscoa é celebrada como no Brasil, mas de uma forma mais tradicional. Hoje se pode comprar ovos cozidos e coloridos nos supermercados e também ovos de plástico, isopor ou madeira já pintados ou para serem pintados.

A pintura dos ovos é feita em família e também nas escolas primárias, que ensinam diferentes técnicas. Escolhem-se as técnicas a serem usadas e numa tarde a família se reúne para pintar seus próprios ovos. Uma tarde realmente de harmonia e brincadeiras. Hoje as crianças já se adiantam buscando novas técnicas na internet, mas este momento de convívio familiar ainda é preservado.

Há uma “Arvore de Páscoa”, que se faz a partir de galhos da fúcsia amarela ainda sem folhas e flores; mantém-se num vaso com água e se penduram nela os ovos artificiais pintados; ela floresce (florzinhas amarelas) “coincidindo” com a Semana Santa.

Surpresa nos ninhos

Ovos decorados e de chocolate: no belo arranjo de mesa (Valeria Küng)

No sábado, véspera da Páscoa, os pais se reúnem novamente com as crianças para fazer os ninhos onde os “coelhinhos” irão deixar os ovos na virada desta noite. O ninho pode ser improvisado com pratinhos de vaso de planta, se não tiver um cestinho. Cobre-se o pratinho com papel alumínio e se enche de fios de palha, gravetinhos, grama, serragem, feno, etc; a imaginação não tem fronteiras!

Depois que as crianças dormirem se esconde o ninho com ovos cozidos pintados anteriormente junto com os de chocolate e se esconde os ninhos em diferentes lugares. Na manhã de domingo, as crianças já acordam alvoroçadas, mal contendo a ansiedade, e saem pela casa e/ou jardim à procura dos ninhos para ver o que “o coelhinho da Páscoa” deixou para elas. Os ovos cozidos são trocados como presente entre os familiares e comidos no café da manhã do domingo de Páscoa.