Patricia Lamounier (texto & fotos) – Por incrível que pareça, decidimos fazer a viagem de San Pedro do Atacama ao Salar de Uyuni, quando visitava minha amiga Miki no Japão. Foi por causa de uma matéria que assistimos na BBC. Resolvemos que conheceríamos San Pedro e o deserto do Atacama e de lá iríamos ao Uyuni numa viagem de 4 dias – ida e volta, em um 4×4.
Inúmeras são as agências em San Pedro do Atacama que oferecem este tipo de passeio. Não é preciso reservar do Brasil e nem com muita antecedência… Nosso tour foi comprado 4 dias depois de chegarmos à San Pedro. Olhamos em 3 agências de viagem e não vimos muita diferença nos pacotes. Ás vezes, tem uma parada ou hostel diferente mas “no fritar dos ovos” é tudo igual! Os preços não variam muito. Pagamos em torno de 200 dólares pela viagem (incluído transporte, alimentação e hospedagem).
Descobrimos bem mais tarde que esta viagem para ser quase perfeita, envolve um pouco de sorte. Pode acontecer do motorista (guia e cozinheiro!) não ser falante, pode acontecer de ser rude, de estar caindo de sono ou “bebum”, da comida não ser lá grandes coisas, dos hostels não terem água (nem fria!) e dos banheiros serem insuportáveis por sua precariedade! Além disto, o carro pode ser “perrengado” e os companheiros de viagem podem ser mal-educados, reclamões e complicados!
Não tivemos o que reclamar. Adoramos cada minuto do nosso tour. Adoramos nossos companheiros de viagem, super ecléticos e de nacionalidades diferentes. O único senão ficou pelas condições de higiene dos banheiros que gostaríamos que fossem melhores!
Segunda noite: jantando com o motorista (boné vermelho) e com os companheiros de viagem (faltando a peruana)
CONEXÃO DE INTERNET & OUTRAS CONSIDERAÇÕES
Esquece! Não existe conexão no trajeto e nem nos hostels. Na cidade de Uyuni é possível conseguir um restaurante ou café com internet. Então, aproveite o tempo para conversar, tirar fotos e curtir a paisagem! Desconecte-se!
Troque dinheiro nas casas de câmbio em San Pedro. Procure um câmbio interessante. Perto da Calle Caracoles ou mesmo na Caracoles você encontrará algumas… Em vários momentos durante a viagem os “Bolivianos” (BOB ou Bs) são necessários!
Algumas pessoas podem achar este passeio meio cansativo, meio enjoativo (mal de altitude), meio anti-higiênico, meio “wild” e completamente sem tecnologia. Saiba mais sobre os pontos que devem ser considerados para realizar esta viagem na matéria “Salar de Uyuni, Bolívia: quando ir e as várias maneiras de chegar”
SAN PEDRO DO ATACAMA AO SALAR DE UYUNI
São 2 opções de passeio saindo de San Pedro para o Uyuni: 3 ou 4 dias! 3 dias se você for ficar na cidade de Uyuni e seguir viagem para outro lugar! 4 dias se for regressar à San Pedro (3 para ir e 1 para voltar!). Enfim, são quase 500km de distância, sendo que 350km é em trilhas de areia e cascalho, dentro do Parque Nacional de Fauna Andina Eduardo Ayaroa! Os outros 145km em estrada asfaltada.
Tudo isto feito num jipe 4×4, para 7 pessoas (1 motorista faz tudo e 6 turistas!). Malas e provisões ficam acomodados na parte de cima do carro.
Viagem de volta… Quase chegando em San Pedro do Atacama: os franceses, o motorista, Miki e eu!
HOSTELS
Quartos compartilhados no Refugee Camp (Primeira noite)
Pois é, são as agências que escolhem os hostels (e o motorista!). Os hostels são super, super simples e estão localizados nos pontos mais remotos do caminho, sem muita infraestrutura. Normalmente os quartos são a compartir com várias camas, inclusive beliche. Na 1.ª noite fomos informados que não teríamos como tomar banho… Entretanto, o lugar era limpo e os sanitários também! Em alguns quartos, havia um cheiro de mofo…
As roupas de cama nos hostels não são trocadas com frequência. Portanto, se tiver um saco de dormir, leve-o! Não só pelo frio mas pela higiene! Caso não tenha, c’est la vie!
Segunda noite: hostel na cidade de Uyuni feito com blocos de sal (pedra cortada)
Quarto em que ficamos no hostel: feito com blocos de pedras de sal
BANHOS & BANHEIROS!!!
Os banhos nos hostels são frios, sem pressão e regulado por minutos. Uma taxa de 10 Bolivianos é cobrada pela água quente! Amém!!!
Não tente pagar á mais para ser a primeira a tomar banho! A fila deve ser respeitada!
Para o banho, leve uma sandália de borracha , sabonete e toalha-fralda ou de alta absorção. Apoie-se em algum lugar ao se vestir. Muitos dos banheiros não oferecem apoio, exceto pela parede e o chão fica completamente alagado!
Ah! Leve um mini secador bivolt se você não quiser ficar com os cabelos úmidos. Devido as baixas temperaturas os cabelos não secam.
OS GRUPOS DE VIAGEM
Nosso grupo: 1 japonesa, 1 americano, 1 peruana, 1 espanhol e 1 mexicana
Quando “fechamos” o pacote na agência em San Pedro fomos informadas que iríamos com mais 4 pessoas e 1 motorista. Não nos informaram sobre essas pessoas. Apenas disseram que seriam turistas também!
Demos muita sorte. Nosso grupo entrosou rapidamente e conversávamos o tempo todo, misturando inglês por causa da japonesa e o espanhol por causa do motorista e do Catalunho. Tudo em “espanglês”. Todos nos esforçávamos em falar pausadamente e gesticular bastante para que pudéssemos nos compreender!
Viajamos com um jovem casal que morava no México e que se mudaria para a Espanha. Ela, mexicana e ele espanhol da Catalunha! O outro casal era “meio que temporário”. Ele, jovem americano viajando o mundo. Ela, peruana. Ele a conheceu em Lima e começaram a se relacionar. Estavam juntos na viagem mas sabiam que cada um seguiria seu caminho depois!
Enfim, são as agências que organizam os grupos. Se você estiver viajando sozinha ou em 3 pessoas, haverá outras pessoas sozinhas ou talvez um pequeno grupo, num total de 6. Dependerá das pessoas que comprarem o tour.
O grupo de volta sempre será um pouco diferente, pois se misturam. Alguém ficará na Bolívia seguindo outro caminho. Nossos 4 companheiros viajaram para Sucre. Voltamos com um grupo de franceses: 2 enfermeiras, 1 engenheira e 1 controlador de tráfego!
Salar de Uyuni: tomando café com o grupo original no 1.º hotel de sal “Playa Blanca”
CRUZANDO AS FRONTEIRAS CHILE-BOLÍVIA
Fila na imigração e aduna da Bolívia
A viagem atravessa as fronteiras Chile-Bolívia. Ambas adunas estão localizadas em área descampada onde venta e faz um frio do cão.
A aduana do Chile está fica num galpão onde um carro pode entrar. Ali é quente e existe estrutura de banheiros. Seu passaporte será checado, carimbado e suas malas podem ser revistadas. Será solicitado o cartão de imigração (PDI) que você recebeu no aeroporto (ou posto de imigração) quando entrou no Chile. Ao sair desta aduana, o carro segue em direção à aduana da Bolívia, na fronteira, em Hito Cajón!
Detalhe: na volta desse passeio, o carro quando entra novamente na aduana chilena é vasculhado. Sua bagagem é checada no raio-x e muitas vezes, aberta! Folhas de coca e chachacuma (para o mal de altitude) são proibidas no Chile. A imigração é rigorosa!
A aduana da Bolívia é um caos total! Uma casinha simples, sem banheiros e numa área de parking com vans e jipes chegando e saindo. Ao chegar nesse descampado, prepare-se: você deseja não ter saído da cama neste dia! Seu corpo treme e seus os ossos doem de frio!
Prédio de Imigração e Aduana – Bolívia
Entre na fila! Seja educado! Preencha o formulário. E não reclame com o oficial – sobre nada! Você pode ser solicitado á esperar fora da fila…. Eu enfrentei a fila no frio e no vento, passei pela burocracia e saí… o turista continuava lá!
Brasileiro não tem problema na aduana. Entrega o formulário e passaporte, paga a taxa de 15 Bolivianos e pronto! É tão automatizado que os oficiais nem olham muito. Entretanto, turistas de países como EUA e Canadá, podem ter que pagar uma taxa de entrada bastante significativa.
Na passagem de volta pela fronteira da Bolívia, uma taxa de 15 Bolivianos é cobrada.
RESERVA NACIONAL DE FAUNA ANDINA EDUARDO AVAROA
Paisagem da Reserva Nacional da Fauna Andina Eduardo Avaroa (REA)
Parte do trajeto até Uyuni é feito através da Reserva Nacional da Fauna Andina Eduardo Avaroa (REA) situada na Cordilheira dos Andes. Nome dado em homenagem ao empresário e herói de guerra Eduardo Abaroa Hidalgo. É área de proteção ambiental, sendo a mais visitada do país. Recebe em média 40 mil turistas/ano.
O percurso é feito em veículo 4×4 numa altitude máxima de 4.500m. Vez ou outra, é provável achar no caminho um 4×4 com pneu furado por causa das trilhas de areia e cascalho. Como não existe posto de gasolina, junto com as bagagens e comida na parte de cima, estão os galões de gasolina.
Para adentrar à reserva é necessário comprar um ingresso no valor de 150 Bolivianos. O ticket é adquirido no escritório da REA, á poucos quilômetros da fronteira. É válido por 4 dias. Portanto, não perca-o pois é cobrado em alguns momentos da viagem!
Foto externa do escritório da REA
Comprando os tickets de entrada no escritório da REA
No trajeto existem inúmeras paradas bem legais! Muitos “spots”, como os vulcões Licancabur e o Ollague, as piscinas termais, os gêiseres, as lagoas de cores e estilos diversos (colorada, verde, branca, de flamingos e salgada)!
Entretanto, conversando com outras pessoas, muitos acharam que as paisagens são parecidas com aquelas encontradas nos arredores de San Pedro e deserto de Atacama. Sou suspeita. Para mim, cada lugar tem sua graça e seu momento, tornando tudo muito único. Mesmo que as situações desagradem, elas são únicas e passageiras! Questão de ponto de vista.
Sobre San Pedro e o Deserto do Atacama, leia também: Valle de La Luna é passeio obrigatório no Atacama, Passeio ao Salar de Tara, Conheça o povoado de Machuca, San Pedro de Atacama: o que fazer neste charmoso vilarejo, San Pedro de Atacama: como ir e onde ficar, Lagunas Altiplânicas
ITENS PARA SEREM LEVADOS NA VIAGEM
Preparando a mala: roupas para uma viagem de 20 dias!
O Salar de Uyuni recebe turistas o ano inteiro. No verão (dezembro, janeiro e fevereiro) os dias são quentes, com máxima de 19°C e as noites frias, registrando a média de -1°C. A variação de temperatura é enorme. No deserto, as temperaturas podem chegar aos 30°C em alguns horários. A variação também ocorre no inverno (junho, julho e agosto) com a máxima de 14°C durante o dia e mínima de -13°C a noite.
As agências de turismo normalmente informam quais os itens necessários para a viagem. Mesmo assim, acho interessante mencionar:
– Água (pelo menos 5 litros): É necessário se manter hidratado durante toda a viagem, para não ter dor de cabeça. Leve uma garrafa pequena para ficar na mochila de mão o tempo inteiro e vai enchendo a medida que for esvaziando;
– Protetor solar, protetor labial e loção hidratante: o sol é forte na região. Mesmo com vento e frio, não descuide. Mantenha-os na mochila de mão e use-os sempre;
– Óculos de sol: a claridade refletida ofusca os olhos!
– Papel Higiênico e lenços umedecidos: normalmente não existe papel higiênico nos banheiros! A maior parte dos banheiros no caminho são pagos e a qualidade do papel fica a desejar. Além disto, ele é manuseado por várias pessoas antes de lhe ser entregue (no caso do banheiro pago!);
– Barra de cereais, suquinhos e biscoitos: mesmo a comida estando incluída, leve estes itens em pouca quantidade. Eles são muito úteis em alguns momentos!
ROUPAS EM FUNÇÃO DAS TEMPERATURAS
Para este tipo de viagem é melhor usar o efeito cebola: várias camadas! A medida que esfria ou esquenta, você põe ou tira!!!
– Jaqueta corta vento ou casaco similar para ser a proteção mais externa da sua vestimenta. A sensação térmica por causa do vento pode ser extremamente baixa;
– Blusas intermediárias: Blusas de lã ou moletom quente, para usar por baixo da jaqueta corta vento;
– Segunda pele e blusas para usar como proteção de pele: aquelas que vão por baixo de tudo! Quanto mais quente e confortáveis melhor. No inverno, são de grande valia!
– Calças confortáveis e “ceroulas”: (calça de algodão ou de lã para ser usada por baixo da calça);
– Luvas, cachecol e gorro especialmente aqueles que protegem as orelhas;
– Meias grossas e botas confortáveis principalmente aquelas tipo trekking (não indico tênis, apesar de muitos usarem!);
– Boné ou chapéu para proteger do sol.
OUTROS ITENS
– Saco de dormir: Eu não levei o meu, pois não havia espaço na minha mala. Mas se você for ficar mais tempo na Bolívia, leve-o! Não é só pelo frio, mas pela higiene… as roupas de cama não são trocadas com frequência!!!
– Toalha de banho: recomendo toalha-fralda (aquelas que os bebês usam) ou toalhas de secagem rápida e de alta absorção;
– Aparelhos tecnológicos: máquina fotográfica, celular, carregador, etc.
Viaje conosco
*Se você estiver interessada (o) em viajar para San Pedro do Atacama e clicar em nossos links, ganhamos uma pequena comissão do Booking.com e do Rentcars.com do qual somos afiliados. Isso não influi em nada no preço final que você pagará em suas diárias. Essa comissão nos ajuda a pagar os custos do blog e continuar trazendo as melhores informações para você!
Breve explicação
*Todos os custos da viagem como hospedagem, passeios, e traslados incluindo passagens aéreas e da matéria ” De San Pedro do Atacama ao Salar de Uyuni em 4×4: o que saber antes de ir” – foram bancados por mim e pela minha companheira de viagem, Miki Kuwano. Esta é a política do blog, de total transparência.
*Caso venhamos a viajar com algum apoio, isso estará explicitamente citado no post.
comentários