Isabel Pomar Bonnín – A Rota dos Pueblos Blancos, Povoados Brancos ou Aldeias Brancas atravessa a Serra de Grazalema, a Serrania de Ronda e de Los Alcornocales. É o mais belo roteiro de Andaluzia.

As cidades que fazem parte dos Pueblos Blancos recebem este nome porque todas as casas têm fachadas de cal branca, tão características das comunidades andaluza. São cidades de pequeno e médio porte, aninhadas no topo de montanhas, quase sempre ao redor de um castelo. Os telhados vermelhos e ruas estreitas também são típicas desses povoados.

A Rota dos Pueblos Blancos é o itinerário turístico e cultural mais antigo do Sul da Espanha. Este roteiro nasceu ao longo do século XIX, através dos livros dos viageiros românticos obcecados pelo orientalismo, pelas lendas de amores contrariados e pela presença de bandoleiros bons e governantes maus.

Foram os viageiros estrangeiros, sobretudo ingleses e franceses, que marcaram sobre o mapa de Andaluzia um apaixonado itinerário entre Cádiz e Málaga.

Mapa Rota Pueblos Blancos, Pueblos Blancos, Mapa Google

Mapa extraído do Google: Rota dos Pueblos Blancos

A Rota dos Pueblos Blancos começa na bonita cidade de Arcos de La Fronteira e termina em Ronda. Ou ao contrário. A emoção, de uma forma ou outra, é a mesma!

São mais de 20 municípios a percorrer. Um álibi perfeito para conhecer e curtir o rico e diverso patrimônio histórico, cultural e natural de cada uma destas cidadezinhas.

Elas guardam em seu interior uma rica oferta turística: igrejas de diferentes estilos arquitetônicos, jazidas arqueológicas de distintas épocas, castelos, grutas pré-históricas, museus e espaços naturais.

Todos os Pueblos Blancos oferecem uma paisagem impressionante. Estão empedrados, caiados e são encantadores. Sua forma pausada de vida é contagiante. É um sopro de ar fresco para quem vive nas grandes cidades ou zonas turísticas massificadas.

A paisagem muda de maneira dramática o tempo todo. Colinas verdejantes dão lugar a montes e montanhas com aparência de paisagem lunar e são rapidamente substituídas por prados com massas de cássias amarelas e quilômetros e quilômetros de olivais. Uma hora são os bosques de carvalhos e figueiras e, meia hora depois, vastas áreas agrícolas.

O clima entre elas muda também. Grazalema, com altitude de 1.654m, apresenta o maior índice pluviométrico da Espanha. Ronda, que fica a poucos quilômetros de distância, tem clima seco.

 QUANDO FAZER A ROTA

Outono e primavera são as melhores estações para visitar os Pueblos Brancos. Na primavera é ainda melhor, pois os campos estão floridos e a temperatura é amena.

No verão, as temperaturas  podem ser muito altas e os turistas lotam a região. Já o inverno é severo e o frio intenso, especialmente nos vilarejos da serra. Algumas estradas podem estar com neve ou gelo, o que é pior.

COMO SE LOCOMOVER

A rota deve ser feita de carro. Existem ônibus que chegam a diferentes cidades da rota, mas exige muitos dias de viagem.  O charme está em parar e apreciar a paisagem e conhecer as cidades. Um carro com GPS é de grande ajuda.

 

ARCOS DE LA FRONTERA

Arcos de La Frontera, Pueblos Blancos

Arcos de La Frontera, Pueblos Blancos (Depositphotos)

O final “de La Frontera” remete ao séc. XII. Significa que as cidades estavam literalmente na fronteira entre o território cristão e islâmico.

A cidade de Arcos de La Frontera é considerada uma das mais belas da Rota dos Pueblos Blancos. Ela faz parte da Via Romano-Ibérica. Seu bairro árabe é um emaranhado de ruas estreitas e sinuosas, de praças mínimas e casas caiadas. É melhor evitar dirigir pelas ruas. Caminhe!

A Praça do Cabildo é o ponto focal onde se encontra os edifícios da cidade.  No ponto mais alto da vila está o castelo dos Ponce de León, Duques de Arcos.

Os lugares e edificações a visitar são: Convento da Caridade de las Mercedarias Descalzas, a Casa Palácio del Mayorasgo, a Galeria de Arte Arx-Arcis, a Igreja Gótica de San Pedro, o Mirador de Abades, a Casa Palácio Cuenca e a Antigua Casa Palacio del Marqués de Terresoto.

BORNOS

Bornos, Pueblos Blancos

Bornos, Pueblos Blancos (Depositphotos)

Encravada à beira da represa do Rio Guadalete, foi declarada Conjunto Histórico. Espalhada  por um amplo vale, Bornos é basicamente uma cidade agrícola.

O centro desta vila é cheio de casas majestosas, com jardins pequenos e bem cuidados. Seu traçado urbanístico gira em torno de sua joia monumental, que é o Palácio da Ribeira, declarado Bem de Interesse Cultural.

Entre os edifícios relevantes por sua arquitetura, figuram as casas senhoriais da Cilla (séc. VII – XVII) e dos Ordónez (séc. XVIII), o Colégio e Hospital de La Sangre, a Igreja Paroquial de Santo Domingo de Guzmán, o Convento do Corpus Christi e o Mosteiro dos Jerônimos, ambos do séc. XVI.

ZAHARA DE LA SIERRA

A Serra do Jaral acolhe sobre suas ladeiras esta vila serrana postada no interior do Parque Natural Serra de Grazalema. A fundação da cidade data da época muçulmana. As portas das casas são mínimas e suas janelas têm grades que vão, muitas vezes, até o chão.

O semblante branco e vertical de Zahara de La Sierras é refletido nas águas cor de turquesa do lago que leva seu nome. Os empinados e incríveis morros e suas casas caiadas na primavera são herança direta do seu passado árabe.

Construções a serem visitadas em Zahara de La Sierra: Castelo, a Torre del Homenaje,  Igreja Barroca de Santa Maria de la Mesa (séc. XVIII), Capela de San Juan de Letrán, Torre do Relógio e Ponte de los Palominos e o Moinho El Vinculo, onde os turistas podem ver como é a produção do tradicional de azeite de oliva.

ALGODONALES

Algodonales é rodeada de olivais e hortas regadas pelo Rio Guadalete e pela represa de Zahara. Está situada junto a Serra de Lijar. Suas ruas estreitas e sinuosas seguem o percurso natural das águas da chuva.

Esta vila constitui passagem obrigatória para ascender ao Parque Natural da Sierra de Grazalema pelo norte. Na cidade, encontramos muitas oficinas artesanais de fabricação de violões.

Entre os edifícios e monumentos mais importantes estão a Igreja Paroquial de Santa Ana, de barroco tardio com elementos neoclássicos e as pitorescas Fontes de Algarrobo. Os lavadouros públicos (locais criados especialmente  para lavagem das roupas que, anteriormente eram lavadas nos rios, ribeiras e riachos) são curiosos de se observar. A grande maioria foi construída ao longo do século XIX.

OLVERA

No início do século XX sua economia ganhou nova vida. Olvera se tornou uma “estação-chave” no entroncamento ferroviário entre Almargen e Jerez de la Frontera. Infelizmente, em algum momento da história, este leito de estrada foi abandonado. Entretanto ainda nutre a economia da cidade, com uma interessante trilha para ir a pé ou de bicicleta até Puerto Serrano.

No centro histórico de Olvera está um belo conjunto arquitetônico. As origens da atual cidade parecem situar em torno do recém-restaurado castelo árabe. Levantada no século XII e seguindo um traçado triangular, a fortaleza de Olvera se eleva sobre o penhasco, conservando os muros.

O castelo árabe (fortaleza) e a igreja neoclássica presidem a massa branca de pequenas casa que se ordenam numa série de curvas estreitas e traçado irregular, fazendo um emaranhado urbano lindamente caótico, que nos faz lembrar suas raízes islâmicas.

O que visitar

É no meio do casario histórico que está a Igreja de la Encarnación, com seu pequeno, mas fascinante museu. A igreja é uma soberba construção neoclássica dos fins do século XVIII, construída pelos Duques de Osuna. Consta de 3 amplas naves cobertas de mármore importado da Itália. Está construída sobre o terreno de uma antiga mesquita árabe e substitui uma primitiva igreja gótica, cujos restos podem ser vistos na capela batismal.

Edificações que merecem destaque: Casa de La Cilla, Casa de Osuna, Monumento ao Sagrado Coração, Santuário da Nossa Senhora dos Remédios e o antigo Convento de Nossa Senhora de Canõs Santos.

SETENIL DE LAS BODEGAS

Setenil de La bodega, Pueblos Blancos, Depositphotos

Setenil de la Bodegas, Pueblos Blancos (Depositphotos)

O “Bodegas” anexado ao nome da cidade remete ao passado vinícola da região, que produziu vinhos até 1860, quando uma praga destruiu os vinhedos. Hoje a cidade vive da produção de amêndoas e azeitonas.

Este é um dos povoados mais curiosos da Rota dos Pueblos Blancos. O que o diferencia dos outros povoados brancos é que boa parte de suas casas foram “construídas” sob uma saliência de rocha vulcânica.

O rio Tajo atravessa a cidade. As ruas situadas à direita do rio são conhecidas como “calle del sol” e à esquerda , “calle de la sombra”, pois só um lado recebe os raios solares.

Setenil guarda uma beleza especial.  Suas ruas são seu principal atrativo. O traçado urbano que desce do Castello ou Fortaleza Nazarí de Stenil se molda ao terreno abrupto, com casas sobre ou debaixo das rochas, criando um mosaico espetacular, no qual aparecem grutas, ruas em diferentes alturas, e numerosos cantos especiais.

O destaque da cidade fica com as casas-gruta localizadas, em sua maioria, nas ruas Cuevas del Sol, Cuevas de la Sombra, Calle Mina, Calle Herrería, Calle Jabonería, Calle Cabreriza, Calle Triana e Cuevas de San Román.

RONDA

Ronda, Pueblos Blancos,depositphotos

Ronda, Pueblos Blancos (Depositphotos)

É a cidade final da Rota dos Pueblos Blancos. Sobre uma meseta rochosa a 739 metros acima do nível do mar, Ronda está dividida em 2 partes por um precipício conhecido como “El Tajo de Ronda” (penhasco de Ronda), por onde passa o Rio Guadalevin.

É este rio, ao qual os árabes deram o nome de “rio do leite”, que divide a cidade: a velha e a nova.

Ronda é assim: empoleirada na extremidade de uma cadeia montanhosa e dividida ao meio.

Lugares para conhecer: A Plaza de Toros de Ronda (“Macaranã das Touradas”), o Palácio de Mondragón, o Palácio do Marquês de Salvatierra, a Casa del Rey Moro, a Capela barroca de Santa Maria Auxiliadora, o Convento das Clarissas, ao lado do Colegiata de Santa Maria, a Câmara Municipal e o Mercado de Abastos.

Ronda tem comunicação com os municípios circundantes através de uma rede de estradas montanhosas com valor paisagístico muito apreciado.

EL BOSQUE

Em plena Serra de Albarracín, El Bosque está rodeado por vales e encravado entre frondosos bosques cheios de mananciais de águas medicinais. Seu legado arquitetônico é formado pela Igreja Paroquial de Nuestra Señora de Guadalupe, o Palácio Ducal, a Capela do Calvário e a Plaza de Toros.

É conhecido como porta de entrada para o Parque Natural de la Sierra de Grazalema, reserva natural de 535 km2. É necessário ter autorização para andar em certas áreas do parque.

GRAZALEMA

Grazalema, Pueblos Blancos, Espanha

Grazalema, Pueblos Blancos (Depositphotos)

Grazalema é o coração do roteiro “Pueblos Blancos” e uma beleza natural de povoado. É um singular pedaço da geografia sulista.

A cidade está muito bem preparada para receber visitantes.

Ao visitá-la, não deixe de saborear o cubilete, um doce em forma de cubo pequeno feito de açúcar, farinha, canela e recheado de cabelo de anjo. A caldareta de cordeiro e a cagarria são pratos típicos da região. O queijo payoyo é artesanal.

GAUCÍN

Ver Gaucín à distância é como ver uma cidade de contos de fada. Na opinião de muitos, é a mais linda vista que se pode ter de um “Pueblo Blanco”.

Localizada no alto de uma montanha, suas casinhas brancas parecem flutuar ao redor das rochas. A uma altitude de mais de 600m, oferece vistas para o mediterrâneo, para o Atlântico, para o Rochedo de Gilbraltar e para as Montanhas Rif, na África.

A cidade foi inspiração para o Ato III, cena do bandoleiro, na ópera Carmen.

Construído pelos romanos no ano de 914, o Castelo El Águia teve grande valor estratégico ao longo da história, pois era a defesa da entrada sul.

A cidade já foi paraíso de contrabandistas de bebida e tabaco que viajavam pelas montanhas e arredores. No século XIX, Gaucín foi popular entre oficiais britânicos, que costumavam parar na cidade á caminho de Gibraltar.

 

Se está pensando em fazer um tour pela Espanha, veja a matéria sobre Minorca! Você vai amar!

ISABEL POMAR BONNÍN – Aos 18 anos, deixou para trás Mallorca, ilha onde nasceu. Aos 23, deixou Europa, seu continente, para morar no Brasil.

É professora formada em Filosofia pela PUC-MG e em Teologia na Faje. Em 1995, obteve o mestrado na área teológica. Durante várias décadas dedicou à docência.

Em 2008, por amor ao Brasil, naturalizou-se. Apesar de ter dois passaportes, descobriu muito cedo que não teria nunca uma territorialidade definida. Seria meio apátrida, uma estrangeira incorrigível com fome de estrada e cosmopolita de nascença. Estaria sempre em trânsito!

Viajou por muitas geografias, dialogou com diversas culturas e adotou novos costumes. Pisou o chão de mais de 20 países e  faz do viajar parte do seu viver.