Maria Claudia Orlando Magnani – As sibilas são profetisas da mitologia greco-romana ligadas ao Deus Apolo. O mito vem da Babilônia para a Grécia e depois Roma. Foram incorporadas ao cristianismo por Constantino no Concílio de Nicéia em 325. Assim, elas passaram a profetizar sobre o nascimento, vida, paixão, morte e ressurreição de Cristo além de anunciarem o Juízo Final.
É por isso que foram representadas tão frequentemente nas igrejas, nos livros católicos e em gravuras que circularam tanto na Europa quanto na América espanhola e portuguesa.
Seria um trabalho hercúleo para muitas equipes e para muitas vidas a identificação das representações das sibilas no mundo cristão.
Trabalho de maneira solitária. Concentro-me mais na Itália, onde as representações são mais numerosas, seja porque é a sede do poderio da Igreja, seja por ser o local onde, desde o mundo pagão, as sibilas possuíam paragens. Ainda hoje são identificáveis como o antro da sibila em Cuma e o Monte Sibilino na Itália central.
A primeira representação da sibila no mundo pagão é uma pintura parietal descoberta nas escavações de Herculano (séc.I d.c.). Encontra hoje no Museu Arqueológico de Nápoles. Representa Apolo com a sibila ao seu lado em uma posição que sugere uma espécie de esgotamento, ou talvez, submissão.
Há representações nos séculos seguintes, com predominância da iconografia da sibila Tiburtina, como no afresco da igreja de Santa Maria in Aracoeli em Roma, do século XIII, pintado por Pietro Cavallini. Este afresco retratava a lenda da sibila Tiburtina e do Imperador Augusto e foi perdida em um terremoto. A mesma iconografia foi repintada no século XVI pelo pintor Trometta e ainda se mantém na abóbada da abside.
Ghibert adornou as portas do batistério do Duomo de Florença com um espetacular trabalho em bronze dourado, entre 1425 e 1452. Ali estão seis sibilas. A porta foi danificada num aluvião em 1966 e teve sua restauração finalizada em 2016. Desde os danos da enchente, existe no batistério uma cópia. A porta original hoje está visível no Museo dell’Opera Del Duomo (Foto: Claudia Magnani)
Dentre as representações no mundo cristão, a mais antiga que se conhece data do século XI. É um afresco da igreja de Santo Angelo in Formis, em Cápua, região da Campania, Itália. Trata-se da Sibila Tiburtina. (Foto: )
Há ainda conjuntos de sibilas, como as que aparecem nos púlpitos de Giovanni Pisano, seja em Pistoia (na Igreja de Santo Andrea – Foto), seja em Pisa (no Duomo), seja em Siena (no Duomo) elaborados nos primeiros anos do século XIV (Foto: Claudia Magnani)
Acompanhe também Maria Claudia Orlando Magnani em sua história – Roma: Pelos Caminhos do Pantheon.
Do século XV, na catedral de Ulm, na Alemanha, há nove representações de bustos de sibilas esculpidos em madeira, como adorno dos bancos da nave central.
Nos manuscritos anteriores ao evento da imprensa, como bíblias, missais, livros de horas, há incontáveis representações de sibilas em admiráveis iluminuras.
É no renascimento que as representações se tornam numerosas, devido ao grande incentivo dado ao uso das imagens nas igrejas. Serviu como estratégia da contrarreforma católica no Concílio de Trento, aliado à retomada de figurações.
As profetisas são representadas nas Igrejas na Itália, desde então até o século XIX. As mais famosas do contexto da contrarreforma, são as de Michelangelo na Capela Sistina e as de Rafael na Igreja de Santa Maria della Pace, em Roma.
Pesquisando até o momento, encontrei na Itália, 243 ocorrências de pinturas de sibilas no mundo cristão.
Do século XI ao XIX, as profetisas foram fartamente representadas de ponta a ponta da Itália.
Achei também representações numerosas na Espanha, em Portugal (no Alentejo), na França, na Alemanha, na Bélgica (no famoso retábulo de Ghent de Jan van Eyck, Hubert van Eyck), na Inglaterra, na Rússia, na Áustria, na Holanda (em séries de gravuras), na Grécia,na América espanhola (México, Peru e Argentina).
… E NA CIDADE DE DIAMANTINA: SIBILAS
Na América portuguesa encontrei sibilas em uma única cidade: Diamantina. Está na abóbada da capela na Igreja Nosso Senhor do Bonfim, no arco da capela. Ali estão 4 sibilas: Tiburtina, Délfica, Líbica e Frígia.
Existe em Diamantina um ciclo de véus quaremais. São panos sibilísticos, dos séculos XVIII e XIX que eram utilizados para cobrir os altares durante a Quaresma e Semana Santa.
O IPHAN inventariou 9 véus sibilísticos até hoje. 7 destes véus estão em Diamantina, sendo que o mais antigo encontra-se de posse das Carmelitas.
Sibila Líbica da Capela de Nosso Senhor do Bonfim em Diamantina. Séc. XVIII (Foto: Eduardo Orlando)
Uma coisa é certa: as sibilas e suas histórias atiçam a imaginação!!!
Seria tentador fazer uma rota das sibilas, mas isso, seria como dar a volta ao mundo. A pesquisa está em andamento. As sibilas estão por toda parte, de saias, pelo mundo.
Veja a matéria: Vesperata em Diamantina: um final de semana de muitas atividades,
Maria Cláudia Almeida Orlando Magnani é professora de História da Arte e Filosofia do Curso de Turismo FIH/UFVJM. É casada com Fernando e tem duas filhas universitárias que já ganharam o mundo. É apaixonada por arte cristã e pela Itália. Pesquisa o tema das sibilas na arte cristã. Lançou o livro “Histórias de Sibilas entre Braga e Diamantina” em Portugal e em breve lançará outro livro sobre o assunto.
Que legal! Adorei a pesquisa! Sou dramaturga e escritora e escrevi uma peça gótica medieval chamada AS SIBILAS DO DESTINO. Aproveito para divulgar o link: https://clubedeautores.com.br/livro/as-sibilas-do-destino